Postagens

Mostrando postagens de 2018

O grande acordo e seus inimigos

Após a tempestade pouco amena das eleições de 2018, é de se perguntar qual será o rumo do país daí em diante, para além das narrativas de campanha. Há, no presente, a urgência de se solver o Estado Brasileiro. Durante as eleições, pouco se debateu a respeito, mas impera resolver a questão fiscal e econômica do Brasil. Este caminha para se tornar uma nova Grécia caso nada seja feito, pois a previdência (tanto a do regime geral quanto a dos servidores públicos) é inviável no longo prazo. Não há, também, de onde tirar mais recursos da sociedade, sufocada pelo complexo sistema tributário brasileiro, o que leva a crescentes déficits na esfera pública. Por isso, deve haver um grande acordo nacional. Sem capacidade de diálogo e de transigência, os diversos grupamentos políticos podem arrastar o país para o abismo. No entanto, existem problemáticas que obstam o prosseguimento do acordo. Uma delas é a animosidade que ainda viceja da campanha eleitoral. De um lado, boa parte da populaçã...

Resenha: Buracos Negros

Imagem
Buracos negros têm cabelo? O livro “Buracos Negros”, do renomado físico Stephen Hawking, constitui-se da transcrição de duas palestras de quinze minutos, proferidas por ele à BBC em 2016. Trata-se de um apanhado geral sobre este que pode ser considerado um dos mais insólitos e curiosos fenômenos da natureza, provavelmente o que mais atrai a atenção dos leigos em astrofísica. Comentado pelo jornalista de ciência David Shukman, este pequeno texto de 62 páginas percorre o assunto de forma didática, ligeira, sem deixar de lado o tom humorístico, bem típico de Hawking. Em suma, ele demonstra em tais palestras o que são buracos negros de acordo com a ciência, bem como a evolução teórica em torno do tema. Explica que se compreende razoavelmente bem sua formação desde o colapso de estrelas massivas, mas muito se especula sobre as propriedades únicas desses cadáveres estelares. Como se dá a perda de informação quando se formam os buracos negros? Aliás, há perda de informação ou ela é a...

A Queda da Bastilha Brasileira

Imagem
O episódio da Queda da Bastilha foi o ícone do desmoronamento do Ancien Régime francês. Simbolizou não só o marco inicial da Revolução Francesa, mas também a sucumbência da monarquia na França e de todo o sistema de servidão medieval no qual se apoiava. A ascensão dos princípios modernos pelos revoltosos pavimentou o caminho para que o Império de Napoleão os levasse aos povos conquistados, fomentando, por fim, o desaparecimento das relações servis em toda a Europa. A Modernidade, portanto, chegava a seu ápice. Contudo, não foi plenamente efetiva. Pelo contrário, os princípios modernos tardaram a chegar em vários locais do mundo. O Brasil é um exemplo. Muitos podem argumentar que a monarquia há muito desapareceu em Pindorama, mas há de se observar que as relações servis, patrimonialistas, perduraram. A cultura brasileira não absorveu bem os valores da liberdade, da ordem secular, do governo popular. Com efeito, há no imaginário nacional um completo disparate: o bem público é s...

A revolta das elites

Imagem
O Século XX foi caracterizado pela revolta das massas. Mas, hoje, vivemos a revolta das elites. Parece estranho o que escrevi? Bom, veja por esta perspectiva: por muito tempo, as elites controlaram o mundo, tanto no que diz respeito às riquezas materiais quanto em relação à cultura. A partir de determinado momento, no entanto, a Democracia, o Estado de Direito e o Capitalismo promoveram uma mudança de rumos: agora o povo poderia, teoricamente, controlar a política. Até certo ponto, isto é verdade. Contudo, o sistema nunca foi perfeito e vários se revoltaram contra aquilo que achavam uma farsa. Fizeram de tudo para destruir tal sistema, sobretudo uma pretensa elite intelectual que se dizia parte do povo. Assumiu, com petulância, a tarefa de guiá-lo contra os "opressores", negando o fato de que talvez ela mesma fosse parte do aparato "opressor". Essa narrativa prevaleceu por um bom período da história humana. Massas de indivíduos renunciaram à sua autoco...

O grito de independência do brasileiro

As eleições mais importantes da Nova República se aproximam, mas o que realmente está em jogo? Os grandes problemas nacionais são conhecidos (ou deveriam ser). Há gigantescos gargalos estruturais, tanto na economia como nas finanças públicas. O próximo presidente deverá, imediatamente após eleito, tecer relações amistosas com as forças políticas constituídas e alcançar um consenso para sanar tais questões. A alternativa é a derrocada financeira do Estado e a estagnação do país na pobreza. Mas há, ainda, um outro conflito a ser superado: a independência moral e ética da sociedade brasileira frente ao  establishment cultural. Por muito tempo ficou a nossa sociedade refém da moral e dos costumes marxistas e de uma cultura que privilegia a destruição das principais instituições construídas ao longo dos séculos pela humanidade.  Estado de Direito, Democracia, Capitalismo, Família, Ética Judaico-Cristã, Filosofia Clássica. Todo o legado da civilização ocidental corre perigo...

O que será do Brasil?

A democracia brasileira por um triz Faltam poucas semanas para as eleições de outubro, eleições estas que provavelmente serão as mais importantes da Nova República, capazes de definir a situação do país não só nos próximos anos, mas talvez nas próximas décadas e gerações. O que há de se considerar, primeiramente, é que o estado brasileiro está em ruínas. O modelo político e institucional de 1988 falhou. As contas públicas beiram a anarquia, tanto a nível federal como estadual. As instituições servem a poucas classes e setores que se beneficiam do acesso ao poder (servidores públicos da elite e mega empresários, por exemplo), enquanto a maior parte da população é asfixiada pela enormidade de normas e obrigações para com o Estado. Com a morte da sociedade, também morre o próprio Estado e isto poucos parecem perceber. Diante desse cenário, resultado de inúmeros fatores históricos e institucionais, deu-se a reação da sociedade (des)organizada. Desorganizada porque só a visão de...

Resenha: 21 lições para o século 21

Imagem
O sombrio futuro da humanidade (ou mais um conto niilista) Yuval Noah Harari nos impressiona mais uma vez com seu novo livro. Se nas obras anteriores o autor tratou de esquadrinhar o passado e delinear as tendências do futuro, nesta Harari se ocupa do presente e enumera os desafios da humanidade para as próximas décadas. O cenário não poderia ser mais sombrio. Didaticamente, Harari explica que o mundo do Século XXI caminha para a superação (um eufemismo para o completo colapso) das democracias liberais, não tanto por uma problemática externa, como foi no século passado, mas por conta da disrupção tecnológica constante no campo das ciências informacionais e biológicas e da própria incapacidade humana de gerir problemas em larga escala.  Parece enredo de ficção científica? Sim, mas tal fato está mais próximo do que pensamos, como demonstra o autor. As democracias liberais provavelmente serão solapadas por essa disrupção tecnológica que pode produzir massas de humanos ir...

Resenha: Um Cântico Para Leibowitz

Imagem
“Será que não temos escolha a não ser bancar a fênix e repetir sua interminável sequência de ascensões e quedas?”. Esta é a reflexão primordial da interessantíssima obra de Walter M. Miller Jr., ganhadora do Prêmio Hugo de 1961. Estaria a humanidade para sempre condenada a incorrer nos mesmos erros, desde que desceu do Éden e construiu sua morada na Terra? Por que Cesar e seus seguidores perverteram a obra de Deus e criaram a sua própria, fadada eternamente ao fracasso? “Minimizar o sofrimento e maximizar a segurança eram os propósitos naturais e adequados da sociedade de Cesar. Mas, depois, tornaram-se os únicos propósitos, de algum modo, e a única base da lei... uma verdadeira perversão. Inevitavelmente, portanto, ao buscá-los, encontramos somente seus opostos: o máximo sofrimento e uma segurança mínima”. Tais questões tem como pano de fundo o futuro distópico, pós-holocausto nuclear, vivido pelos monges da Ordem de São Leibowitz, os quais mantiveram o ideal de seu funda...

Resenha: A Corrupção da Inteligência

Imagem
O mal-estar dos intelectuais Corrupção da Inteligência é a mais nova obra do antropólogo e analista político Flávio Gordon. Com maestria, ele descreve e critica a tragédia cultural que se abateu sobre o Brasil desde o início dos anos 1960, caracterizada pela hegemonia do imaginário político-ideológico das esquerdas. Sob arguta análise filosófica e antropológica, o autor demonstra como se deu a “guerra de posição” dos socialistas nos últimos cinquenta anos, os quais, abandonando a luta armada e política, mais visível, decidiram ocupar espaços culturais diversos (em especial a Academia), numa transfiguração silenciosa das instituições ocidentais. Conforme esclarece Gordon, a nova esquerda, agora influenciada por autores da Escola de Frankfurt e pelo italiano Antonio Gramsci, obteve grande sucesso em tal empreitada, principalmente no Brasil, país em que as instituições nunca foram fortes.  O resultado dessa estratégia foi a degradação da intelectualidade brasileira. Tomada ...

O horizonte político brasileiro

Imagem
Debate entre economistas deixa claro que o Brasil passará por enormes turbulências num futuro próximo A excelente entrevista realizada pela Globo News com os economistas Marcos Lisboa, Delfim Netto e Laura Carvalho foi estarrecedora. Não apenas pela qualidade do conteúdo (que em muito superou o dos debates entre os presidenciáveis), mas também pela conclusão que figurou ao final do programa: o Brasil não tem futuro. Abandonando as paixões políticas e ideológicas (pelo menos em parte), os referidos economistas expuseram a situação caótica das contas públicas e a completa incapacidade de se formar um governo decente nos próximos anos, dada a conjectura infame do debate público brasileiro e a falência de nossas instituições. Escancarou-se o fracasso do projeto político, institucional e jurídico de 1988. A chamada "Constituição Cidadã" relegou aos cidadãos brasileiros um sistema caótico, mesmo que tenha princípios humanos louváveis. Como bem mencionou Marcos Lisboa, há ...

Percepção política em 2018

Imagem
Como se situam ideologicamente os candidatos à presidência? Elaborei um gráfico, utilizando o Political Compass, para demonstrar a tendência ideológica dos principais candidatos à Presidência da República em 2018.  Utilizei, basicamente, a percepção política que cada um deles provoca no eleitorado, bem como compêndios com as principais propostas contidas nos respectivos planos de governo. Obviamente, este gráfico relaciona-se mais estritamente à minha visão subjetiva sobre cada um dos candidatos, pois não realizei um trabalho de pesquisa rigoroso sobre suas propostas ou identidades políticas. Mas, creio eu, é uma visão que grande parte do eleitorado compartilha. Em suma, aqui está: Algumas observações: 1) Jair Bolsonaro poderia ter sua posição no eixo "x" (economia) deslocada para o meio do gráfico, visto que vê com moderação a necessidade de ajuste fiscal, bem como já adotou posturas anti-liberais. Contudo, a inclusão de Paulo Guedes numa possí...

O que é ser um conservador?

A verdadeira postura conservadora pode surpreender a maioria Ser um conservador em nada se relaciona com um suposto saudosismo de eras passadas, ou com a manutenção de um sistema ético-moral baseado em tradições ancestrais. Ser conservador é ser prático: é admitir que o Ocidente moderno só obteve sucesso em difundir sua cultura e, no processo, dominar o mundo, tendo como base três pilares fundamentais: Capitalismo, Ciência e Estado Democrático de Direito.  Os dois primeiros foram resultado de um longo processo ocorrido ao longo de séculos, que incutiu na sociedade a ideia de progresso: o mundo pode ser melhor no futuro, desde que os seres humanos procurem o conhecimento. A aquisição de conhecimento gera confiança no futuro. Mais confiança significa que mais crédito pode ser disponibilizado, mais empreendimentos podem ser realizados e mais conhecimento pode ser produzido. A sociedade enriquece, num ciclo virtuoso ininterrupto. O terceiro pilar, Estado Democrático de Dir...

As escolhas de cada um

Imagem
Como pensam os criminosos? As escolhas dos indivíduos são pouco determinadas pelo meio em que vivem, mas sim pela sua própria consciência. Esta é a conclusão do professor Stanton Samenow, psicólogo forense americano, cuja vasta experiência prática com criminosos lhe rendeu material para o livro Inside the criminal mind . Nele, o autor discorre acerca da propensão de certas pessoas à criminalidade. Sugere, ao contrário do que afirmam os pensadores viciados pelas narrativas sócio-históricas, que o comportamento delituoso é produto de modelos de pensamento individuais. Isto é, criminosos constroem, desde cedo, uma personalidade voltada a agir de modo socialmente inaceitável e, portanto, sedimentam uma trajetória repleta de escolhas que convergem para esse fim, pouco importando o meio no qual estão inseridas. Não há exemplo mais eloquente de tal tese do que os criminosos de colarinho branco: há pessoas que ostentam uma condição social favorável que acabam por praticar toda...

Castelo de cartas

Imagem
Alguma vez você já parou para se perguntar como é que a humanidade deu certo? Que raios aconteceu nos últimos milhões de anos para que criássemos isso que chamamos de sociedade? O mundo estava muito bem sem nós, obrigado. Sem mais nem menos, um bando de primatas com cérebros hiperdesenvolvidos começa a andar nas duas pernas, fabricar lanças, cozinhar, falar, inventar histórias por aí... Voilà! Temos uma sociedade: uma multidão indistinta, constituída de seres semelhantes na constituição física, mas que pensam radicalmente diferente entre si. Mesmo assim, conseguem se reunir e cooperar em torno de coisas que só existem dentro de suas respectivas cabeças. Com o passar do tempo, criaram um castelo de cartas imaginário, o qual ainda se mantém de pé, apesar de tudo. Até onde ele pode se sustentar?

Um estranho numa terra estranha

Imagem
Se há uma certeza no relacionamento humano no Brasil é a dificuldade de interpretar as reais intenções dos indivíduos. A palavra aqui pouco vale: no intuito de parecer boa-praça e evitar conflitos, o homem cordial brasileiro (no melhor sentido sociológico de Sérgio Buarque de Holanda) esconde de todo modo suas intenções. Compromissos podem ser descumpridos e adiados ad infinitum , somente pela duvidosa necessidade de manter uma aparência, uma máscara, de cordialidade. É a negação da negação. O "não" é tido como uma ofensa pessoal irreparável. Quem descumprir esta regra é excluído do convívio social silenciosamente.  A conclusão desse aspecto singular do brasileiro leva a crer que a falsidade é regra e a verdade é exceção. Uma total inversão de valores. Aqueles que ousam remar contra a maré sentem-se deslocados, mas sabem que estão certos. São estranhos numa terra igualmente estranha.

Por que ainda me iludo?

Da ausência de pluralidade de ideias na academia brasileira Esta semana, visitei conhecida feira de livros promovida por uma famosa universidade federal, cujo principal atrativo é o generoso desconto oferecido a todos os exemplares postos à venda. Esperava encontrar volumes e mais volumes de obras de variadas fontes, autores e referências. No entanto, esta expectativa raramente é correspondida nesse tipo de evento e ainda fico surpreso como posso me iludir a tal ponto. Como é sabido pelas pessoas que ainda não tiveram sua consciência corrompida, há muitas décadas que o ambiente cultural brasileiro (aí incluídas editoras de livros e a própria universidade) foi tomado de assalto pelo pensamento neomarxista e pelas políticas identitárias de cunho relativista. Travando uma verdadeira guerra de posição cultural, de forma a ocupar todos os espaços de produção e circulação de ideias, os militantes de tais ideologias, inspirados por Gramsci e outros autores, obtiveram grande êxito no...

A falácia do determinismo e a natureza da cultura humana

Teorias como a do materialismo histórico simplesmente estão equivocadas Qualquer construção teórica que pretende explicar a história e a cultura por vias deterministas está fadada ao fracasso, à incoerência e à injustiça. Por que? Yuval Noah Harari, doutor em história por Oxford e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, apresenta a resposta em seu livro "Sapiens". Em poucas linhas, refuta as ideologias que surgiram de tal visão determinista. In verbis : O determinismo é atraente porque implica que nosso mundo e nossas crenças são um produto natural e inevitável da história. [...] Reconhecer que a história não é determinista é reconhecer que não passa de uma coincidência o fato de que a maioria das pessoas, hoje em dia, acredita em nacionalismo, capitalismo e direitos humanos.  A história não pode ser explicada de forma determinista e não pode ser prevista porque é caótica. Tantas forças estão em ação, e suas interações são tão complexas, que variações extrem...

Dia das mulheres?

Imagem
O avanço da agenda transgênero é uma ameaça às mulheres Dia oito de março é considerado o Dia Internacional das Mulheres. Mas o que isso significa hoje, num mundo em que os papeis culturais das pessoas cada vez menos se relacionam com o sexo biológico?  A resposta é simples: o feminismo, que antes era um movimento de afirmação da feminilidade, está caindo em desuso, sem que seus cultores percebam. Isto porque o transgenerismo do Século XXI é conflitante com a noção de feminilidade relacionada ao sexo feminino. Logo, uma data que enaltece as mulheres (este, um conceito puramente cultural) representa o passado, uma concepção superada. Indivíduos do sexo masculino, barbados, que se consideram mulheres, que se identificam enquanto totens de feminilidade, também deveriam ser homenageados no Dia Internacional das Mulheres. Um absurdo para a maioria e também para as feministas, mas é a  única conclusão lógica e moralmente aceita se você quer a valorização da "divers...

Retorno

Por algum motivo obscuro, redescobri este blog. Logo percebi que se tratava de mais um dos meus projetos abandonados pelo caminho. No entanto, prometo que levarei esta ideia adiante. Não posso ficar mais no marasmo, no adiamento indefinido da vida. Assim espero 😅