Por que ainda me iludo?

Da ausência de pluralidade de ideias na academia brasileira


Esta semana, visitei conhecida feira de livros promovida por uma famosa universidade federal, cujo principal atrativo é o generoso desconto oferecido a todos os exemplares postos à venda. Esperava encontrar volumes e mais volumes de obras de variadas fontes, autores e referências. No entanto, esta expectativa raramente é correspondida nesse tipo de evento e ainda fico surpreso como posso me iludir a tal ponto.


Como é sabido pelas pessoas que ainda não tiveram sua consciência corrompida, há muitas décadas que o ambiente cultural brasileiro (aí incluídas editoras de livros e a própria universidade) foi tomado de assalto pelo pensamento neomarxista e pelas políticas identitárias de cunho relativista. Travando uma verdadeira guerra de posição cultural, de forma a ocupar todos os espaços de produção e circulação de ideias, os militantes de tais ideologias, inspirados por Gramsci e outros autores, obtiveram grande êxito no processo de tomada das instituições e do imaginário popular. Qualquer pensamento discordante foi extirpado dos círculos acadêmicos e culturais, restando o ambiente educacional infenso à pluralidade de ideias.

Destarte, verifica-se a emergência, nos últimos cinquenta anos, de uma cultura dualista, determinista e revolucionária. Para ela, o mundo é dividido em identidades de classe, de cor da pele, de gênero, de etnia, etc, cuja dialética entre oprimidos e opressores é o sumo da vida social. A verdade é mera questão de onde o observador está inserido e todo o discurso é reduzido a uma luta pelo poder, na qual aspectos triviais da existência são politizados e inseridos na contenda derradeira entre poderosos e marginalizados. Moral, ética e costumes devem se submeter ao apelo pela justiça e pela igualdade irrefletidas. Um acerto de contas histórico é o que motiva tal pensamento, mesmo que crie novas injustiças e contradições: o famoso "politicamente correto". 

Antigamente, quando era informado sobre tal fenômeno, acreditava ser este mera histeria de grupos conservadores do país. Todavia, ao ler a obra do antropólogo Flávio Gordon, intitulada "Corrupção da Inteligência", percebi que o problema é grave, generalizado e implica a forma como as pessoas enxergam o mundo. Os sintomas gerados pela dominação cultural neomarxista são plenamente perceptíveis no Brasil: a crescente polarização social, os discursos de ódio, vindos de todas as fontes possíveis, e a ignorância generalizada quanto aos mais comezinhos aspectos do conhecimento humano. Não bastasse, tal dominação gerou um dos estados mais caóticos, injustos e dominantes do planeta, baseado numa carta política prolixa e tomada de paternalismos esdrúxulos. 

Pude atestar a hegemonia cultural esquerdista na mencionada feira de livros. Em todas, repito, EM TODAS as bancas de livros, só se encontrava uma referência filosófico-ideológica: a marxista. Releituras d'O Manifesto Comunista, homenagens a Gramsci, dissertações sobre a luta de classes (e as outras ramificações desse dualismo), discursos em defesa do Lulismo. Raras foram as fontes discordantes, e, mesmo elas, só criticam o marxismo por dentro.

Como posso me iludir a tal ponto? Achar que encontraria pensamentos dissonantes neste deserto cultural? Verdadeira ingenuidade. Apesar disso, não estranhei a passividade com a qual a grande manada universitária absorve sem questionamentos tudo que lhes é apresentado, inclusive aqueles ditos "cultos" e "esclarecidos", docentes de renome. Nisto, não me iludo: informação sem reflexão e autocrítica não é conhecimento.

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