O horizonte político brasileiro

Debate entre economistas deixa claro que o Brasil passará por enormes turbulências num futuro próximo


A excelente entrevista realizada pela Globo News com os economistas Marcos Lisboa, Delfim Netto e Laura Carvalho foi estarrecedora. Não apenas pela qualidade do conteúdo (que em muito superou o dos debates entre os presidenciáveis), mas também pela conclusão que figurou ao final do programa: o Brasil não tem futuro.

Abandonando as paixões políticas e ideológicas (pelo menos em parte), os referidos economistas expuseram a situação caótica das contas públicas e a completa incapacidade de se formar um governo decente nos próximos anos, dada a conjectura infame do debate público brasileiro e a falência de nossas instituições. Escancarou-se o fracasso do projeto político, institucional e jurídico de 1988. A chamada "Constituição Cidadã" relegou aos cidadãos brasileiros um sistema caótico, mesmo que tenha princípios humanos louváveis. Como bem mencionou Marcos Lisboa, há um grande "segundo andar" no edifício de normas constitucionais que desvelam o que há de pior no Estado Brasileiro.

A exceção de alguns comentários delirantes e impertinentes da socialista Laura Carvalho, a entrevista adentrou no oceano profundo de mazelas nacionais, em especial àquela relacionada ao endividamento público crescente em face da penúria previdenciária, demandando, por isso, um ajuste fiscal severo. Contudo, a este problema soma-se a incapacidade de nosso sistema político de conseguir tocar reformas e aprovar ações de longo alcance. Nos últimos trinta anos, o que se viu foram atuações pontuais, voltadas a atender interesses de pequenos grupos que se arvoraram nos poderes constituídos.  

Assim, chega-se a um ciclo vicioso: o Brasil necessita de reformas profundas para sair de uma crise fiscal e econômica sem precedentes, mas não tem capital político para tanto, o que agrava ainda mais o contexto geral e aumenta a demanda de ajustes urgentes e impopulares. Nada mais nefasto e imprudente. 

Nuvens negras surgem no horizonte. Serão indicativo de garoa ou de um furacão? 


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