Entendendo o conflito árabe-israelense



Por Rodrigo da Silva (Spotniks)


Com os ataques terroristas promovidos pelo Hamas contra civis e militares em Israel, nesse final de semana, produzi um guia para explicar as origens do conflito Israel-Palestina, e contar quem são os principais atores envolvidos nesse evento.

Este é um beabá de uma história complexa que evidentemente não se encerra aqui. E ele é dedicado a quem não faz a menor ideia do que acontece nessa região do mundo.

1. O que significa ser um judeu?


Essa definitivamente não é uma pergunta irrelevante.

O termo "judeu" pode significar duas coisas:

1) ser um adepto do judaísmo;
2) ser um membro da etnia judaica.

O judaísmo é a religião dos judeus. Diz respeito a uma crença em um Deus único que segue as escrituras da Tanakh (que são, a grosso modo, o que os cristãos chamam de Antigo Testamento).

Mas a identidade judaica também pode ser entendida em termos étnicos.

Etnicidade diz respeito a um grupo de pessoas que compartilham uma herança cultural comum – que pode incluir língua, tradições, costumes e, muitas vezes, uma origem geográfica comum.

Durante grande parte da história, os judeus se casaram dentro de suas comunidades e, portanto, também compartilharam características genéticas comuns.

E isso não significa que eles formam um grupo étnico homogêneo.

Há diferentes grupos de judeus. É o caso dos judeus asquenazes (da Europa Central e Oriental), sefarditas (da Península Ibérica), mizrahitas (do Oriente Médio e do Norte da África) ou beta israel (da Etiópia).

Há também judeus étnicos que podem não ser adeptos do judaísmo e até adotar outras religiões.

2. O que é Israel?


Israel é o único estado judeu do mundo, localizado no Oriente Médio, entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão. Se você abrir o Google Maps, perceberá que ele está bem pertinho de países como Líbano, Síria, Jordânia e Egito.

A conexão dos judeus com a terra de Israel remonta a milênios. E o início dessa relação é registrado nas escrituras sagradas dos judeus.

Na Tanakh, os cinco livros fundamentais da fé israelita são conhecidos como Torá (os cristãos conhecem esses livros como Pentateuco).

Da perspectiva religiosa, a história do povo judeu tem início com Abraão, considerado o patriarca dos judeus. De acordo com as escrituras, Deus fez um pacto com Abraão, assumindo que ele seria o progenitor de uma grande nação. Deus também lhe prometeu uma terra: Canaã, que corresponde em grande parte à moderna Israel.

Se você é cristão, a narrativa do chamado ciclo de Abraão se encontra entre os capítulos 11 e 25 do livro de Gênesis. Os judeus chamam o livro de Gênesis de Bereshit. O Bereshit é o primeiro livro da Torá.

O segundo livro da Torá é o Shemot. Se você é cristão, o conhece pelo nome de Êxodo. O ápice desta obra é narrativa sobre como os israelitas, herdeiros de Abraão, foram subjugados pelos egípcios.

Este é um episódio recorrente na história dos judeus: há milênios eles são perseguidos e/ou entram em conflito com diferentes povos.

O judaísmo, sendo uma das mais antigas religiões monoteístas do mundo, frequentemente entrou em choque com religiões pagãs dominantes ao longo da história. Repetidas vezes, a recusa dos judeus em adotar deuses locais ou em se converter a religiões majoritárias levou o grupo a sofrer acusações de heresia ou infidelidade.

Este é outro episódio recorrente na história de Israel: este território foi, ao longo do tempo, dominado por diferentes grupos, impérios e nações – judeus, assírios, babilônios, persas, macedônios, romanos, bizantinos.

E essa é a razão para tanto arranca rabo: Israel está no cruzamento entre a Ásia, a África e a Europa. Ou seja: foi, ao longo de milênios, um ponto muito importante para o comércio, a migração e as conquistas militares.

3. O que significa ser um palestino?


Em 135 d.C., o imperador romano Adriano expulsou os judeus de Jerusalém e decretou que a cidade e o território ao redor fizessem parte de uma entidade maior chamada Síria Palestina.

A Síria Palestina foi criada a partir da fusão das antigas províncias da Síria e da Judeia.

A palavra Palestina deriva do grego “Filístia”, que por sua vez faz referência aos filisteus, um povo que habitava a costa do Levante durante a Idade do Ferro.

Como narra a Tanakh, os filisteus frequentemente entraram em conflito com os israelitas antigos. Ao usar o nome Palestina, Adriano estava evocando uma referência histórica a um povo que era um antigo inimigo dos judeus. Muitos historiadores acreditam que isso aconteceu como uma forma de insulto.

A renomeação foi uma tentativa de diminuir a identidade judaica da região.

Mas essa região, claro, não permaneceu para sempre sob domínio romano.

Quando o Império Romano teve seu fim, no século 4, o Império Bizantino ficou com os espólios de Israel. Mas isso também não durou muito tempo: no século 7, após a conquista islâmica do Oriente Médio, os povos árabes começaram a se estabelecer na antiga Palestina.

Os descendentes dessa população hoje são chamados de palestinos.

A maioria dos palestinos são muçulmanos sunitas.

4. Como Israel foi parar nas mãos dos ingleses?


Em 1517, a região de Israel passou a ser controlada pelo Império Otomano.

O Império Otomano, uma das maiores e mais duradouras potências muçulmanas da história, controlou a região de Israel, junto com vastas extensões de território no Oriente Médio, no Norte da África e na Europa, por 400 anos.

O controle sobre Israel durou até o fim da Primeira Guerra Mundial, quando os otomanos, em seus dias finais, se alinharam com as Potências Centrais (Alemanha e Áustria-Hungria).

É este episódio que condiciona o fim do Império Otomano e a conquista do território de Israel (então Palestina) para o controle do Reino Unido: foram os britânicos que venceram a Primeira Guerra Mundial.

Nesse momento, no início do século 20, este território era habitado por uma minoria judaica e uma maioria árabe.

Onde estavam os judeus? Espalhados pelo mundo.

Apenas 10% da população total da Palestina era composta por judeus (cerca de 60 mil pessoas).

Até 9 milhões de judeus viviam na Europa antes da Primeira Guerra Mundial. A maior concentração desse grupo estava no Império Russo (que incluía partes da atual Polônia, Ucrânia, Bielorrússia e outros territórios). Os judeus também tinham populações significativas na Hungria, na Romênia e na Alemanha.

Por que a Europa? Diferentes episódios de perseguição e conflito levaram os judeus a um capítulo de suas histórias conhecido como diáspora. Os judeus se viram forçados a sair de sua terra prometida, expulsos por diferentes governantes e impérios.

Diferentes motivações condicionaram os judeus a viveram na Europa: culturais, políticas e econômicas.

5. Como os judeus voltaram para Israel?


No final do século 19, em resposta ao crescente antissemitismo na Europa e à aspiração nacionalista de ter um lar seguro e soberano, surgiu um movimento conhecido como sionismo.

O sionismo buscava estabelecer um lar nacional para o povo judeu na Palestina.

Entre 1896 e 1948, centenas de milhares de judeus reassentaram-se da Europa para o que era então a Palestina controlada pelos britânicos, incluindo um grande número de judeus forçados a sair da Europa durante o Holocausto.

E, claro, isso gerou profundo incômodo nos palestinos.

As tensões entre os dois povos aumentaram quando a comunidade internacional deu à Grã-Bretanha a tarefa de estabelecer um “lar nacional” na Palestina para o povo judeu.

Para os judeus, era a sua casa ancestral, mas os árabes palestinos também reivindicaram a terra e se opuseram à mudança.

Em 1947, a ONU votou a favor da divisão da Palestina em estados judeus e árabes separados, com Jerusalém se transformando numa cidade internacional sob administração da ONU.

A ideia por trás disso era garantir o acesso e a proteção dos locais sagrados de Jerusalém para todas as religiões e evitar conflitos sobre a cidade.

O plano foi aceito pelos líderes judeus, mas rejeitado pelos palestinos e os países árabes vizinhos. E por isso nunca foi implementado.

6. Por que os palestinos rejeitaram o plano da ONU?


Muitos palestinos acreditavam que a proposta da ONU violava os princípios de soberania e autodeterminação. Para eles, como a maioria da população da Palestina era árabe, a terra deveria permanecer sob controle árabe.

Os árabes sentiam que estavam sendo forçados a pagar o preço pelo sofrimento dos judeus na Europa – em especial o Holocausto.

Os estados árabes vizinhos também se opuseram ao plano e exerceram pressão sobre os palestinos. Havia um sentimento de solidariedade árabe e uma crença de que a causa palestina era uma causa árabe.

Havia também, claro, uma parcela de sentimento anti-judeu na Palestina, oriundo de uma propaganda antissemita construída, em especial, na Europa e que alcançou, com sucesso, boa parte do mundo (e do Oriente Médio).

Durante as décadas de 1930 e 1940, algumas facções árabes foram influenciadas pela propaganda antissemita construída na Alemanha nazista. Alguns líderes árabes, como o nacionalista Haj Amin al-Husayni, chegaram a estabelecer laços com os nazistas.

Amin al-Husayni via nos nazistas potenciais aliados contra o sionismo e o domínio britânico na Palestina, e em troca do apoio de Hitler, chegou a promover o recrutamento de voluntários muçulmanos para as Wafen-SS.

Mas essa é apenas uma parte dessa história – e sequer é a maior.

É preciso entender dois conceitos fundamentais:

a) Antissemitismo é o ódio contra judeus. É um preconceito, como o racismo ou a xenofobia.
b) Antissionismo é a oposição política ao sionismo. É uma identidade política contra o Estado de Israel.

Muitos que protestam contra a criação do Estado de Israel não são antissemitas. Mas há também muitos antissemitas que se escondem atrás do antissionismo, propagando os mesmos discursos antissemitas que se espalharam pelo mundo – e em especial pela Europa – e legitimaram a ascensão do nazismo.

Em 1947, a principal preocupação dos árabes palestinos era o antissionismo.

7. Como nasceu o Estado de Israel?


Em 1948, incapazes de resolver o dilema, os britânicos partiram e os líderes judeus declararam a criação do Estado de Israel.

A cizânia levou a crescentes episódios de hostilidades e eventualmente a um conflito militar, em 1948 – conhecido como Guerra da Independência, por parte dos judeus, e al-Nakba (“A Catástrofe”), por parte dos palestinos.

Como consequência desse conflito, até 800 mil árabes palestinos fugiram ou foram expulsos de suas casas. Quando o conflito terminou com um cessar-fogo em 1949, os judeus controlavam a maior parte do território.

Com a criação do Estado de Israel, houve um afluxo significativo de judeus imigrando para Israel. Muitos deles eram sobreviventes do Holocausto.

Da perspectiva religiosa, a população de Israel hoje é 74% judia, 18% muçulmana, 2% cristã, 1,6% drusa e 4,4% outra/desconhecida.

A população árabe de Israel é próxima de 21%, e inclui quase todos os muçulmanos, drusos e a maioria dos cristãos que vivem no país.

A divisão da ONU prometeu 56% da Palestina britânica para o Estado judeu; no final da guerra, Israel possuía 77%.

8. O que são a Cisjordânia e a Faixa de Gaza?


Durante o controle britânico da Palestina, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza faziam parte do território da Palestina. Não havia uma distinção administrativa significativa entre essas áreas e o resto da Palestina.

Mas quando a ONU propôs a divisão da Palestina em um Estado judeu e um Estado árabe, a maior parte da Cisjordânia seria parte do Estado árabe, enquanto a Faixa de Gaza estaria conectada a esse território por um corredor.

A Cisjordânia é um pedaço de terra no leste de Israel onde vivem quase 3 milhões de palestinos.

A Faixa de Gaza é um território de 41 quilômetros de comprimento e 10 quilômetros de largura entre Israel, o Egito e o Mar Mediterrâneo. 2 milhões de palestinos moram nesse lugar.

Durante a Guerra da Independência/al-Nakba diversos países árabes invadiram o território que hoje constitui Israel.

A Cisjordânia foi ocupada pela Jordânia e, em 1950, foi formalmente anexada pelo país. A Faixa de Gaza, por sua vez, foi ocupada pelo Egito.

Essa é a história desses territórios até 1967, quando, na Guerra dos Seis Dias, eles passaram a ser ocupados pelo lado vencedor do conflito: o Estado de Israel.

Esse foi o status desses territórios até a década de 1990, quando o Estado de Israel e a Organização para a Libertação da Palestina iniciaram um processo de paz que gerou um episódio conhecido como Acordos de Oslo.

Como resultado desse acordo:

a) A Organização para a Libertação da Palestina reconheceu o direito de Israel existir em paz e segurança, enquanto Israel reconheceu a Organização para a Libertação da Palestina como a representante legítima do povo palestino.

b) A Cisjordânia foi dividida em 3 áreas, com diferentes níveis de controle palestino e israelense.

c) A Autoridade Palestina foi estabelecida para governar em nome dos palestinos.

Em 1994, o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, o ministro israelense de Relações Exteriores, Shimon Peres, e o presidente da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat, receberam o Prêmio Nobel da Paz pelo acordo, "por seus esforços para criar a paz no Oriente Médio".

Em 1995, Yitzhak Rabin foi assassinado por um terrorista israelense de extrema-direita que se opôs aos Acordos de Oslo.

Israel retirou-se unilateralmente da Faixa de Gaza em 2005, desmantelando todos os assentamentos que possuíam.

Mas essa história não durou muito tempo.

9. Hoje existe um Estado palestino?


Embora não seja um Estado soberano no sentido convencional, devido à ocupação israelense de parte do território, o Estado da Palestina foi proclamado em 1988 pela Organização de Libertação da Palestina.

138 dos 193 estados-membros das Nações Unidas reconhecem o Estado da Palestina (71,5%). Muitos dos países que não reconhecem o Estado da Palestina reconhecem a Organização de Libertação da Palestina como a “representante do povo palestino”.

A maioria dos países considera a Cisjordânia um território ocupado por Israel.

Esses são alguns dos países que não reconhecem o Estado da Palestina: Israel, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália, Japão, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Suíça e boa parte dos membros da União Europeia (França, Alemanha, Espanha, Portugal, Itália, Holanda, Noruega, Irlanda, Grécia, etc).

Muitos desses países defendem uma solução para o conflito envolvendo dois Estados.

O Estado da Palestina proclama os seguintes territórios como parte de sua soberania: Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza.

Quase sempre quando alguém sugere uma solução envolvendo dois Estados para o conflito israelense-palestino, esses territórios citados estão desenhados como palestinos.

Mas a fronteira entre Israel e a Cisjordânia provavelmente teria de mudar em qualquer acordo de paz. Existem cerca de 500 mil judeus vivendo na Cisjordânia, muitos deles próximos da fronteira com Israel.

Nenhum grupo de líderes israelenses ou palestinos chegou a um acordo sobre onde traçar precisamente a fronteira entre esses dois hipotéticos Estados.

10. Onde entra o Hamas na história?


O Hamas foi fundado por líderes da Irmandade Muçulmana na Faixa de Gaza. A Irmandade Muçulmana, originária do Egito, é uma organização muçulmana sunita. O nome "Hamas" é um acrônimo em árabe para "Movimento de Resistência Islâmica" (Harakat al-Muqawama al-Islamiya). Também significa "zelo" em árabe.

O Hamas é, antes de tudo, uma organização política que busca governar a Palestina e defende a destruição do Estado de Israel. Ou seja: o grupo condena os acordos de Oslo e defende a substituição de Israel por um Estado islâmico.

O Hamas possui uma série de órgãos de liderança que desempenham diversas funções políticas, militares e sociais.

As Brigadas Izz ad-Din al-Qassam são o braço militar do Hamas. Desde o início dos anos 1990, esse grupo assume a responsabilidade pela realização de uma série de ataques violentos contra civis e militares israelenses.

O Hamas (ou o braço militar do Hamas) é considerado uma organização terrorista por diferentes países e organizações internacionais, como Israel, Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Japão, Canadá e Austrália. O Brasil não faz parte dessa lista.

Desde 2007, a Faixa de Gaza está sob controle do Hamas.

O Hamas é apoiado pelo Irã, que ajuda o grupo com financiamento e fornecimento de armas e treinamento militar. O grupo também conta com o apoio da Turquia.

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, vive no Catar.

À medida que o Hamas assumiu o controle na Faixa de Gaza, criou instituições mais autoritárias que as anteriores, deixadas pela Autoridade Palestina. Ao contrário do que ocorre em Israel, não há a primazia dos direitos humanos no território.

11. Onde entra o Fatah na história?


Na Palestina, o principal grupo de oposição ao Hamas é o Fatah, fundado por Yasser Arafat em 1959. Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, é o presidente do Fatah.

A Autoridade Palestina ainda hoje é reconhecida internacionalmente como a representante oficial do povo palestino. E isso lhe confere uma posição de destaque em negociações diplomáticas.

Em termos de controle territorial, a Autoridade Palestina controla uma área maior (partes da Cisjordânia) em comparação com o Hamas (Faixa de Gaza). Apesar disso, o controle do Hamas sobre Gaza é mais absoluto, enquanto a soberania da Autoridade Palestina na Cisjordânia é limitada pela presença e pelos assentamentos israelenses.

A ampla maioria da população palestina rejeita a liderança política do país dividida. Hoje o Hamas é mais popular que o Fatah.

12. Onde entra o Hezbollah na história?


Por décadas, Yasser Arafat, o pai fundador da Autoridade Palestina, foi um ativista pela destruição de Israel.

O seu grupo político, a Organização de Libertação da Palestina, estabeleceu uma presença significativa no Líbano. Na década de 1970, inúmeros ataques contra Israel foram comandados pela Organização de Libertação da Palestina a partir do sul do Líbano.

Em 1978, Israel lançou a Operação Litani, uma invasão militar no sul do Líbano com o objetivo de empurrar as forças da Organização de Libertação da Palestina para longe da fronteira israelense.

Os israelenses até se retiraram do território após alguns meses, mas estabeleceram uma "zona de segurança" no lugar, patrulhada por uma milícia aliada chamada Exército do Sul do Líbano.

É nesse contexto que surge o Hezbollah.

O Hezbollah é uma organização xiita libanesa com divisões políticas, militares e sociais. Seu nome significa "Partido de Deus" em árabe.

O grupo foi estabelecido com o apoio do Irã no início dos anos 1980, como uma milícia contra o papel de Israel no sul do Líbano.

Desde então, o Hezbollah tem estado envolvido em uma série de confrontos, atentados e operações militares contra Israel. O grupo é aliado do Hamas.

O Hezbollah (ou o seu braço militar) é considerado uma organização terrorista por diferentes países e organizações internacionais, como Israel, Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Japão, Austrália e Canadá. Alguns países da América Latina também fazem parte desse grupo – é o caso de Argentina, Colômbia e Paraguai. O Brasil não integra a lista.

13. Onde entra Benjamin Netanyahu na história?


Poucos meses após o assassinato do primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, Benjamin Netanyahu, líder do partido Likud, foi eleito primeiro-ministro de Israel.

Desde então, nos últimos 27 anos, ele foi o chefe de Estado de Israel por 19.

O Likud, na realidade política israelense, é geralmente considerado um partido de direita. Ele defende uma abordagem de segurança mais rígida, é cético em relação a concessões territoriais em negociações de paz e tem uma visão nacionalista do sionismo. O Likud também tem apoiado a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia – e por isso é acusado pelos palestinos de promover uma limpeza étnica.

A natureza do sistema político israelense frequentemente exige coalizões para formar um governo. E na última década, Netanyahu precisou se aliar a partidos mais à direita ou religiosos - como o Yamina, o Shas, o Partido Judaísmo Unido da Torá e o Partido Sionista Religioso – para poder governar. E isso também levou o seu partido a apoiar políticas mais à direita.

Há muitos defensores do Estado de Israel no mundo que são opositores do Likud e de Benjamin Netanyahu, e entendem que a sua liderança política é perversa para a região.

Na Europa e na América, Benjamin Netanyahu costuma ser defendido por líderes populistas de direita, como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Viktor Orbán.

Trump tomou diferentes decisões vistas como favoráveis a Netanyahu e sua agenda, como o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel. Bolsonaro prometeu transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, mas não cumpriu a promessa – no lugar disso, lançou um escritório comercial na cidade.

O apoio da direita populista ocidental a Netanyahu e a Israel pode ser atribuído a diferentes fatores, desde uma visão compartilhada sobre o Islã e o terrorismo, até uma postura de alinhamento entre lideranças nacionalistas.

14. E agora?


Com a fragmentação do poder político na Palestina, entre Hamas e Fatah, e um governo em Israel disposto a expandir os assentamentos do país na Cisjordânia, não há nada indicando um processo de paz nos próximos anos.

As cenas de barbaridade patrocinadas pelo Hamas nesse final de semana diminuem drasticamente essas chances.

Dos países vizinhos, a participação do Hezbollah nessa história deve acirrar ainda mais o conflito.

O Irã também promete piorar o que está ruim.

A resposta israelense, nos próximos dias, será dura, com o apoio e a indignação do Ocidente. A Palestina contará com o apoio – direto ou indireto – dos países árabes, do Irã, da Turquia, da China e da Rússia.

O estado brasileiro promete neutralidade nessas questões, mas Lula e a esquerda brasileira são historicamente alinhados dos palestinos. E a tendência é que não alterem esse posicionamento.

Nesse final de semana, qualquer membro da espécie humana que não tenha sido lobotomizado por uma ideologia política se escandalizou com a barbárie dos atentados terroristas.

Mas os assassinatos não foram a única notícia trágica do dia. Os jornais podem até não ter registrado, mas o mundo agora está ainda mais fragmentado do que antes. E não parece haver nada capaz de alterar essa realidade.

A chacina, no fim, não é só uma derrota para a humanidade. É, antes disso, uma vitória para os sectários.

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