O que os ministros do STF tanto escondem?
Por André Marsiglia
Poder 360,
28/01/2025
Dos
abusos corriqueiros dos inquéritos sigilosos, em trâmite no STF desde 2019,
destacam-se os vazamentos seletivos de informações à imprensa e o tribunal não
permitir às partes e à defesa acesso à íntegra dos autos. À imprensa entregam o
que é das partes, às partes, quase nada. Para não dizer que as ilegais
ocorrências se dão em 100% das vezes, pode-se dizer que foram noticiadas em
casos como de Filipe Martins, Daniel Silveira e, mais recentemente, no
impedimento de acesso aos autos da defesa do general Braga Netto e no vazamento
da delação de Mauro Cid.
Eu
mesmo passei por idêntica situação, tendo sido o 1º advogado a atuar no
inquérito das fake news, defendendo uma revista chamada Crusoé, que publicou à
época uma reportagem cujo título era “O amigo do amigo de meu pai”, em
referência a um dos ministros, e foi censurada. (…)
As
alegações do STF e do ministro Alexandre de Moraes são sempre as mesmas. Dizem
que os advogados falseiam a verdade, que recebem o que importa a seus clientes
e que isso é o bastante. Não, não é o bastante. Não se constrói uma defesa com
base em um conteúdo editado. Não há, dessa forma, paridade de armas, pois o
advogado defenderá seu cliente com base em um arremedo, mas seu cliente será
julgado com base na íntegra dos autos, que são de conhecimento do juiz.
No
meu caso, cheguei a receber certa vez, por WhatsApp, mais do que entendiam ser
a parte que me cabia do latifúndio inquisitorial dos inquéritos e, sem querer,
acabei descobrindo que o STF, a pedido da PGR, estava investigando até mesmo os
leitores da revista. Como fazer a defesa de acusações sem sentido, lançadas de
surpresa no colo de advogados?
O
STF e seus ministros sabem muito bem que isso não está certo e, quanto mais
tiram as investigações da vista das partes e dos advogados, mais fica no ar uma
indigesta pergunta: o que tanto escondem? E mais, será que mostram à imprensa a
totalidade do que escondem das partes? Duvido muito.
O
que há de tão secreto nas investigações e julgamentos da Corte, que sua
revelação causaria ao país um mal maior do que soterrar o direito à ampla
defesa de tantas pessoas, soterrando no final a própria democracia?
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