A estrada totalitária

Por J. R. Guzzo

 

O regime Lula-STF, para ir direto ao centro do assunto e não ficar gastando o tempo do leitor com esses não-me-toques das mentes civilizadas, tem uma tarefa vital para a execução do único projeto que realmente lhe interessa: ficar no governo para sempre. Essa tarefa é a censura policial ao que milhões de brasileiros dizem hoje na praça livre das redes sociais. Pode ser uma busca inútil, malfeita e idiota. Talvez seja impossível. Mas Lula, o seu culto e os ministros do Supremo enfiaram na cabeça, definitivamente, que não há mais lugar no Brasil para eles e para a liberdade de expressão ao mesmo tempo. Sua opção, naturalmente, é pela própria sobrevivência.

 

A combinação de horror e ódio que o consórcio foi formando em relação à internet passou o limite da política e já está hoje, abertamente, na área da neurose. Há alguma dificuldade, em relação a qualquer coisa, no governo? A culpa é jogada automaticamente em cima da “terra sem lei” que existiria nas redes sociais. O dólar passou dos R$ 6,10? A Polícia Federal vai investigar memes que estariam, com certeza, provocando a alta. A Rede Globo denuncia a atuação das redes na “Faria Lima”. A Advocacia-Geral da União requer, e é obedecida, que sejam tiradas da internet postagens chamando o ministro Haddad de “Taxad” — é isso que está causando, dizem eles, a baderna na economia. (…)

 

Alexandre de Moraes diz a cada 15 minutos que a arruaça transformada pelo regime no Golpe dos Estilingues foi provocada diretamente pelas “plataformas digitais”. As redes são acusadas de causar aumento de preço no supermercado, assassinato de crianças e pânico com a dengue.

 

Isso para não falar nas denúncias permanentes de que as redes sociais tornam impossível a existência da democracia no Brasil — ou seja, ou a democracia acaba com elas, ou elas acabam com a democracia. A AGU deixa de ser um órgão de Estado e passa a ser uma célula política extremista a serviço da repressão — atividade que, frequentemente, conduz em conjunto com facções do Ministério Público. A noção milenar traduzida pela palavra “liberdade” foi abolida pelo governo e pela esquerda. É compulsório para eles só falar de liberdade, hoje em dia, colocando automaticamente junto algum termo depreciativo: “abuso de liberdade”, “liberdade sem limites”, “excesso de liberdade”, “liberdade de mentir”, “liberdade de casa da Mãe Joana”, e por aí afora.

 

Isso tudo, para resumir a ópera, claramente não significa opinião. Ou seja, não se trata de pontos de vista racionais sobre o fenômeno certamente perturbador da criação de mecanismos tecnológicos que, pela primeira vez na história da humanidade, permitem que todos digam a todos, o tempo todo e em todo o mundo, tudo o que querem dizer em público. Trata-se de puro e simples pânico do pensamento político totalitário diante da pior ameaça estrutural que pode existir, em qualquer época, para sua existência: a possibilidade concreta, mecânica e permanente de que a maioria do povo manifeste livremente a sua opinião. O regime em vigor não tem uma opinião sobre as redes sociais. Tem um propósito objetivo: impedir que as pessoas digam ali o que o governo não quer que seja dito.

 

Não tem o mínimo interesse para Lula, o Supremo e a militância de esquerda enfrentar a mentira, as fake news ou o “discurso do ódio” — até porque, no mundo das realidades, ninguém prega o discurso do ódio com tanto empenho quanto eles próprios. Pode haver mais ódio do que promover, como posição oficial de um governo, o lema “sem anistia”? E condenar a até 17 anos de cadeia pessoas que tomaram parte num quebra-quebra, todas elas pobres, sem influência nenhuma e sem antecedentes criminais? O que de fato interessa ao consórcio é fazer exatamente o contrário: reservar para eles mesmos o monopólio para pregar o ódio, falsificar os fatos e traficar mentiras. Como Lula diz o tempo todo, o que o interessa não é a realidade. É a “narrativa”.

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