Democratas
Por Alex da Matta
Esse show de pânico moral com presidenciáveis de direita
subindo no palanque pela anistia mostra como boa parte do que se chama de
"moderação" e "democracia" no Brasil é, na prática, uma
ideologia intolerante e radical.
Há um ano, uma pesquisa do Datafolha mostrou que dois
terços dos brasileiros viam o 8 de janeiro mais como vandalismo do que como
tentativa de golpe.
Em dezembro, outra pesquisa do mesmo instituto apontou
que um terço dos brasileiros apoiava a anistia. É coerente: a ideia de que
aquilo foi um golpe não colou, mas as imagens da destruição ficaram. As pessoas
ainda querem punição para os vândalos.
O caso da Débora ganhou força porque, aos poucos, muita
gente percebeu que até quem não quebrou nada está pegando 14 anos de cadeia.
Isso não parece razoável. E aposto que as próximas pesquisas deve mostrar
crescimento no apoio à anistia.
Para quem parte dessas premissas, e são muitos, anistiar
depois de dois anos de prisão parece justo. Mobilizar apoio para isso também. O
problema é que os nossos "democratas" perderam o básico do debate
político: presumir boa-fé.
Não há espaço para a ideia de que políticos estejam
representando milhões de eleitores que, sinceramente, interpretam os fatos de
outro jeito (com oportunismo do político ou sem). Para eles, essa opinião não
está só errada: ela é má. Obviamente, aquelas pessoas estavam no início de um
golpe, e quem discorda disso só pode estar conspirando com a “próxima
tentativa”.
São pessoas que veem metade do espectro político como
uma ameaça iminente, com posições ilegítimas. E, a julgar pelo desempenho delas
defendendo o estado atual de coisas, seja na imprensa ou nas redes sociais, na média são
muito menos honestas ou bem informadas dos meandros do que está acontecendo do
que seus críticos.
É o tipo de convicção moral que dispensa compreensão.
Não tenta entender o outro lado, só enquadrar, rotular e punir. Não lembro de
outro momento da nossa história em que isso tenha sido assim.
Se o bolsonarismo causou um grande dano ao Brasil, foi pela sua aparência grotesca: criou uma repulsa estética tão intensa que boa parte da elite encheu o cu de "democracia militante" e acabou virando um jacobino fora de controle.
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