Globo

 Por Leandro Narloch



Eu cresci, como muitos brasileiros, assistindo Jornal Nacional e Jornal da Globo. Quando me mudei pra SP, percebi que assistir o JN me fazia matar as saudades de casa: ele era parte da normalidade, da rotina reconfortante da casa da minha mãe. Mas hoje, como muitos brasileiros, eu não suporto os jornais da Globo ou da GloboNews.

Quem mudou? Provavelmente ambos, mas deixa eu tentar entender por que o jornalismo da Globo me irrita tanto.

Um primeiro motivo é a confusão entre jornalismo e lição de moral. Os jornais da Globo não querem apenas "informar o Homer Simpson", mas catequizá-lo. Não dão apenas notícias como antigamente (é legal assistir programas antigos pra ver a diferença). Também defendem a moral e os bons costumes politicamente corretos da época. A reportagem sobre pessoas na praia durante a pandemia não informa apenas que há pessoas na praia durante a pandemia - o repórter tem que fazer uma cara exagerada e artificial de reprovação. Volta para o apresentador, que dispara um segundo sermão fraco sobre o tema. Como essa carolice me irrita...

2: Pretensão de ser dono da verdade. Um requisito básico do jornalismo é admitir que a verdade é um cristal que explodiu: ninguém a tem completa, ela está em pedaços espalhada na sociedade. Mas o jornalismo da Globo tenta nos convencer que sabe de tudo e quem discorda é fanático, extremista, negacionista ou disseminador de fake news. Daniela Lima é quem mais investe nesse erro, a ponto de considerar fake news até mesmo opiniões sobre fatos, como "a sociedade está cuidando do RS no braço".

3: Normalização de ideias da extrema-esquerda. Não me esqueço de uma reportagem do JN de anos atrás dizendo que é racismo usar os termos "pardo" ou "mulata". Como de costume, a reportagem seguiu o formato: jornalista (provavelmente do PSOL) levanta o tema e o fundamenta ouvindo um "especialista" que por acaso também é do PSOL. Que tal ouvir um dos tantos linguistas para quem o racismo está na intenção, e não na palavra, ou para quem é ridículo se basear na raiz etimológica para avaliar vocábulos? Jamais.

Em temas ambientais, essa normalização é menos perceptível, mas também muito forte. Já vi o Trigueiro dizendo que a seca no Pantanal havia sido causada pelo uso de pesticidas (fonte: especialista de ONG de esquerda), ou dando números errados sobre pesticidas (baseado numa pesquisadora da USP que em seu "estudo científico" cita Marx diversas vezes). O jornalismo ambiental da Globo embarca como ninguém na "falácia do mundo justo", segundo a qual se passamos por infortúnios é porque fizemos por merecer.

A propósito, é muito difícil haver na Globo um debate verdadeiro em temas ambientais. Ouvir um dos diversos índios favoráveis à mineração em terras indígenas, atividade que enriqueceu comunidades do Canadá, EUA e Austrália? Ouvir especialistas que defendem a mineração sustentável na Amazônia como forma de enriquecer mais desmatando menos? Debater abrir o mercado brasileiro de energia nuclear, a solução óbvia para as emissões de carbono? Jamais, muito perigoso, melhor fazer a milésima matéria sobre "o potencial da bioeconomia" para salvar a Amazônia, potencial que há 40 anos não sai do papel.

Em resumo, o problema não é só o jornalista da Globo ler e estudar pouco, como os jornalistas em geral. O pior é a falta de humildade, o fato de achar que sabe mais que os outros, querer catequizá-los e expurgar os dissidentes.

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