Assessoria de imprensa

 Por Horacio Neiva


A imprensa faz um escrutínio minucioso das motivações dos Senadores para aprovarem a PEC. Questiona os movimentos políticos de cada um, mostra a cálculo eleitoral do Presidente do Senado e como a proposta que limita decisões monocráticas do STF é importante para David Alcolumbre. Levanta pontos relevantes, como o fato de que essas decisões podem ser importantes, em alguns contextos.


Quando volta os olhos para o Supremo, no entanto, o tom é diferente: apático, acrítico, preguiçoso.


Analistas leem e ouvem, em tempo real, mensagens de um Ministro da Corte afirmando que "a lua de mel acabou"; "que não tem mais diálogo"; "que o líder do governo no Senado tem que cair".


Ouvem tudo isso e não fazem nenhum apontamento crítico.


Não perguntam o que significa "lua de mel". Não perguntam o que o Supremo irá fazer em retaliação o e o que significa romper relações com o governo. Sequer se questionam se é apropriado a um ministro da Suprema Corte fazer, em off e com a intenção de serem publicados, esse tipo de comentário.


A reação parece quase de deslumbramento de terem um acesso privilegiado aos ministros, de poderem ouvir seus comentários, de terem um acesso exclusivo.


Nenhum dos jornalistas sequer levantou a questão: há algum processo de interesse do governo que pode ser julgado de forma diversa agora, com o "rompimento das relações"? É normal ou correto que o Tribunal comece a proferir decisões contrárias ao governo porque teve um desentendimento político com ele? O Supremo tinha algum acordo com o Governo para definir sua pauta e a forma como iria julgar os casos?


Não quero dizer, por óbvio, que as respostas a essas perguntas precise ser contra o Tribunal. Mas não fazer esses questionamentos óbvios, exigidos por qualquer cobertura crítica de um tema, revela que, quando o que está em jogo é o Supremo, é melhor filtrar bastante bem os comentários que lemos e ouvimos na imprensa.

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