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Mostrando postagens de 2020

Sobre emancipação e justiça social

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  (Roger Scruton, 2018)

Será?

Tire suas mãos de mim Eu não pertenço a você Não é me dominando assim Que você vai me entender Eu posso estar sozinho Mas eu sei muito bem aonde estou Você pode até duvidar Acho que isso não é amor Renato Russo 

Narcisismo

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O mito de Narciso nasceu na antiguidade clássica e conta a história de um rapaz que, de tão belo, apaixonou-se por si mesmo, indiferente aos amores externos. Ficou a admirar seu reflexo nas águas até morrer. Mais tarde, tal mito deu nome a um transtorno de personalidade: o narcisismo.  Viver com um narcisista é uma experiência nefasta. Não há reciprocidade, somente sujeição ao seu arbítrio. Camuflando sua insegurança interior por meio da arrogância, do controle e do desdém, o narcisista é quase um psicopata, pois, assim como este último, não possui empatia, exceto quando há um ganho pessoal envolvido. Acredita que a vida é um jogo de dominância e, por isso, tentará te rebaixar de toda maneira, até vê-lo como um ser insignificante. É a forma que encontra para afirmar-se como superior. Não importam as emoções e necessidades dos outros, mas somente as dele.  O remédio está apenas no interior daquele que é afetado pelo Narciso, pois este talvez nunca mudará sua essência quebrada. ...

O demoníaco feminino

Jung defendia que tanto homens quanto mulheres possuem energias masculina e feminina. A primeira é mais forte nos homens e a última, nas mulheres. O desequilíbrio dessa relação seria um ponto de conflito não só dentro das bases de um relacionamento, mas como em toda a sociedade. Dentro de tais energias, também se situam o bem e o mal. A melhor versão do masculino é protetora, assertiva, inspiradora. A do feminino, cuidadora, intuitiva, doadora.  A pior versão de cada um manifesta-se de maneiras diferentes. Na do masculino, por meio da agressividade ativa, o ressentimento e amargor. Na feminina, a agressão passiva, o sadismo, a vingança.  O feminino desajustado é algo feio de se ver e sentir. Oculta-se por meio de atitudes dissimuladas que demonstram um sadismo sobrenatural. A vontade é demoníaca: um prazer oculto em ver a vítima sofrer, deixando-a louca com suas insinuações. A verdade importa menos que as aparências. O cinismo prolifera sem pudor, assim como a ganância. Suga-s...

Racismo e cerveja

Na última semana, ficou conhecida no meio cervejeiro a história da "Cervejaria Implicantes", de Porto Alegre, cuja proposta de financiamento coletivo foi boicotada por supostos racistas. No caso, a cervejaria foi duramente criticada nas redes sociais por se considerar a "primeira cervejaria negra do Brasil" e utilizar "black money". Como resposta, muitos "antirracistas" vieram em sua defesa. Horrorizados pelas manifestações nas redes, apressaram-se em declamar o "privilégio branco" no mercado cervejeiro, querendo levar a questão racial para tal universo. Questionaram o lugar de fala do branco nas referidas críticas e toda a problemática do "brancocentrismo" do mercado. Não faltaram também episódios de vitimismo coletivo que as considerou como manifestações do racismo estrutural, de pessoas brancas ressentidas, que não suportam ver o negro bem-sucedido.  O episódio lamentável nos revela duas coisas:  1 - Num aspecto mais restri...

A sociedade da intransigência

Fernando Schüler, professor de ciência política do INSPER, escreveu artigo na Folha, nesta semana, intitulado "Cultura do cancelamento vem criando debate público avesso ao risco e à divergência". Sempre perspicaz, demonstrou como a liberdade de pensamento está sendo ameaçada no Ocidente e trouxe à lume o grande debate nas nações mais avançadas. Reproduzo aqui o artigo de notável lucidez.  Cultura do cancelamento vem criando debate público avesso ao risco e à divergência Por Fernando Schüler "Tentaram “cancelar” Steven Pinker. Ele é um intelectual com jeito de roqueiro das antigas. Linguista em Harvard, autor de alguns livros monumentais (“Os Anjos Bons de Nossa Natureza” e “Iluminismo Agora”). Sua ideia-força é a de que estamos melhorando, como civilização, seja na redução global da violência, respeito a direitos, incidência da guerra. Isso irrita muita gente. Uma carta assinada por um grupo de acadêmicos pedia à Associação Americana de Linguística (LSA) sua destituição ...

Meio e fim

"Na mulher, tudo é um enigma e tudo tem uma só solução: chama-se gravidez. Para a mulher, o homem não passa de um meio. O fim é sempre o filho" . Friedrich Nietzsche

Mulheres

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Ah, as mulheres. Ao mesmo tempo, tão perfeitas e tão complicadas. A sociedade foi moldada ao redor delas, para desespero das feministas que só sabem vociferar contra o patriarcado. Explico: desde o início dos tempos, a vida na terra organizou-se sob um princípio básico, o da autopreservação, o de garantir a continuidade da espécie. Entre os mamíferos, as fêmeas são as genitoras da existência e, no nosso subconsciente de primatas, todo o bando deve, portanto, protegê-las do mundo. Assim, os machos são descartáveis. Se eles morrerem para protegê-las, sua função restará consumada.  Deste modo, a civilização seguiu. Os machos saíam para a caça, para as guerras. Garantiam a sobrevivência das fêmeas. Tinham que propiciar o ambiente necessário à reprodução e ao desenvolvimento da prole humana, naturalmente indefesa nos seus primeiros anos. Os mais aptos nessa tarefa é que mereciam o amor feminino.  No mundo atual, as coisas ainda são assim. A sociedade produziu obras nunca antes vist...

Mimados

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A geração mais jovem dos países ocidentais possivelmente é a mais mimada da história. Uma geração inteira que nasceu e cresceu num mundo de abundância material e de relativa paz. Fome, guerras, doenças, enfim, vários episódios que provocaram a morte de muitos no passado foram aparentemente superados, como se o mundo atual houvesse se tornado outro, alheio a todos os dramas humanos. E, como crianças mal-criadas, os jovens de hoje optaram por desprezar as lições dos antepassados. Tomaram o presente como injusto. Julgam-se melhores e moralmente superiores. Deleitam-se com a vaidade e com os prazeres. No fim, quando contestados, agarram-se a soluções fantasiosas, gritam, esperneiam, recorrem aos antidepressivos.  Mimados. Incapazes de lidar com frustrações. Reagem agressivamente a qualquer dificuldade.  Então, veio a pandemia.  Esta negou a "busca pela felicidade" a muitos. Trouxe limites. Os pais desta geração, que não conseguiram educá-la corretamente, deixaram a tarefa ao ...

Descartáveis

Somos todos descartáveis? A sociedade atual quer sempre mais, mais e mais. O consumismo impera, de forma que até os seres humanos tornam-se bens de consumo. Das modelos novas em roupas caras aos trabalhadores braçais, todos não passam de mercadorias.  Até os relacionamentos: não está satisfeito com o seu atual? Ele está aquém das suas elevadas expectativas? Basta procurar outro no mercado! E assim se procede, não importa a sua posição, gênero, classe, idade... Todos são descartáveis. 

Carta aos enclausurados

Tenho um recado a todos os enclausurados nesta crise. É simples e direto: não saiam de casa.  Quem tiver o privilégio de ficar somente em casa, fique. É difícil apartar-nos de quem amamos. É difícil viver uma vida de isolamento. As oportunidades diminuem. Os conflitos se agravam. Contudo, não sejamos estúpidos e egoístas: toda vez que entramos em contato com outrem, corremos o risco de levar a peste para dentro do próprio lar. Gostariam que seus entes queridos contraíssem a moléstia? Imagino que não. Lembrem-se da responsabilidade para com quem nos é importante. Sejamos menos egoístas. Nossa carência não é relevante. Nossa obtusidade é o mal do mundo. Ninguém se importa com nossos sentimentos. Ninguém dá a mínima. Mas podemos utilizá-los para proteger quem amamos. Pensem nisso. Pensem nos corpos acumulados na porta de cada hospital. Pensem, por um segundo, que poderiam ser um de vocês... ou alguém que amam.  Imaginem a cena, na podridão da sua alma. Humilh...

Sacrifício

"Nem todos os sacrifícios têm a mesma qualidade. Além do mais, geralmente parece que sacrifícios de qualidade aparentemente maior não são recompensados com um futuro melhor - e não fica claro o porquê". Jordan B. Peterson

A insignificância do homem

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Hoje faz um dia cinza. A rua está deserta. As praças, fechadas. As pessoas têm medo. Mas tenhamos fé: a situação há de melhorar!  Resgatei esta foto das brumas do tempo (ajudado pelo Google). No primeiro plano, a Paróquia de Nsa. Sra. de Fátima (Igreja da Assembleia). Ao fundo, as luzes da cidade acenam para o céu decorado com a lua crescente em conjunção com Vênus.  Um lampejo para nos relembrar o quanto somos minúsculos, não temos poder sobre nada e todos os nossos dramas equiparam-se à agonia de insetos. No entanto, o tempo continua sua caminhada implacável, atropelando as preocupações humanas. Paciência, pois nada perdura para sempre.

A estratégia de Jair Bolsonaro

Chegou-se à derradeira provação da República. O sistema político cunhado em 1988 terá, na crise que ora se passa, o seu maior teste. O presidente, sempre com sua estratégia beligerante, está isolado. O diálogo com o Congresso foi perdido. Setores da classe média, os quais só votaram em Bolsonaro por aversão à esquerda radical, ressentiram-se de sua patética condução da crise e do escárnio em relação ao vírus. Inúmeras vidas estão em jogo e o pânico assoma.  Diante disso, o mandatário da cadeira mais importante da República proclamou, em rede nacional, discurso virulento e recriminatório que chocou muita gente. Os gritos de irresponsável e psicopata emanaram das janelas e dos celulares. No entanto, engana-se quem acredita na sua queda imediata. Bolsonaro tem mais cartas na manga que os incautos podem imaginar. Na verdade, sua aposta foi alta e ele pode sair da crise mais forte ainda. Surpreso? Então, entenda: o Brasil não tem condições de sustentar um lockdown de gr...

Conto: O ocaso do homem

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Olhava pela janela sem muito entusiasmo, enquanto fumava um cigarro barato. As luzes da cidade reluziam lá embaixo, uma garoa fina caía sob o céu plúmbeo. Ansioso, decidiu deitar no chão mesmo. Olhava para o teto e soltava baforadas sem qualquer cadência. A fumaça serpenteava pelo cômodo lúgubre.  Sacando o celular, reprisava pela enésima vez as mesmas notícias: quarentena e isolamento. Para ele, aquilo era um suplício. Sentia-se numa prisão. Acostumado a andar a esmo pela urbe, desgarrado de tudo e de todos, a reclusão lhe proporcionava o pior dos mundos. Publicava coisas sem nexo nas redes sociais em busca de um pouco de atenção. Ninguém se importava, deixando-o mais inquieto ainda. Vestindo a surrada jaqueta de couro, decidiu agir. Saindo do quarto, não deu satisfações à família, que estava em pânico. Silenciosamente abriu a porta de entrada e deu o fora, tomando a rua após descer as escadas.  Caminhou pelas avenidas desertas. Não havia alma viva, exceto po...

Justiça Social

"Quando os argumentos se desenvolvem em nome da justiça social, é, por certo, difícil vencer o fascínio que eles provocam, principalmente quando vêm revestidos pelo vigor da cultura e pela elegância da forma". Aroldo Plínio Gonçalves

A moral

"A primeira exigência da civilização é que os homens estejam dispostos a reprimir seus instintos e apetites mais baixos: falhar nisso faz deles, precisamente porque são inteligentes, muito piores que meras bestas". Theodore Dalryple

O resgate

Estava num mar de trevas quando você apareceu. De repente, vi a luz e tive esperança. O que seria de mim sem você? Não gostaria de ser assim, fraco. Mas é o que sinto. Para mim, um milagre aconteceu. Para muitos, algo corriqueiro. Para mim, a vida.

Resenha: Tropas Estelares

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Ficção científica com os pés no chão Tropas Estelares ganhou o Prêmio Hugo, concedido às melhores ficções literárias, no ano de 1960. Foi pioneiro no gênero "ficção militar espacial": percorre a jornada do soldado, desde o árduo treinamento básico até sua promoção e clímax nas batalhas (interestelares). Contudo, não se trata de verdadeira ficção científica. O pano de fundo é a sociedade presente, velada pelo contexto do espaço profundo. O autor, Robert A. Heinlein, um oficial reformado do exército americano, utiliza desse recurso para nos convidar a inúmeras reflexões atuais, no campo moral, social e até mesmo filosófico. Sua obra acaba se tornando densa, não pelo aspecto literário, mas teórico-argumentativo, o que pode decepcionar alguns leitores, como de fato o faz. A princípio, o trabalho foi criticado pelo seu viés "fascista" e, até hoje, é menosprezado em determinados círculos por conta de seu forte posicionamento em temas conservadores. A crítica é med...