Racismo e cerveja

Na última semana, ficou conhecida no meio cervejeiro a história da "Cervejaria Implicantes", de Porto Alegre, cuja proposta de financiamento coletivo foi boicotada por supostos racistas. No caso, a cervejaria foi duramente criticada nas redes sociais por se considerar a "primeira cervejaria negra do Brasil" e utilizar "black money".


Como resposta, muitos "antirracistas" vieram em sua defesa. Horrorizados pelas manifestações nas redes, apressaram-se em declamar o "privilégio branco" no mercado cervejeiro, querendo levar a questão racial para tal universo. Questionaram o lugar de fala do branco nas referidas críticas e toda a problemática do "brancocentrismo" do mercado. Não faltaram também episódios de vitimismo coletivo que as considerou como manifestações do racismo estrutural, de pessoas brancas ressentidas, que não suportam ver o negro bem-sucedido. 


O episódio lamentável nos revela duas coisas: 


1 - Num aspecto mais restrito e aparente, a tensão racial que se instalou na nossa sociedade. 


É claro que a cultura brasileira de tempos longínquos era escravista. Nossas elites depreciavam o negro. No entanto, num passado recente, o Brasil foi considerado um modelo de "democracia racial", pois a questão da raça ficou perdida em tempos remotos. Houve um efetivo e irrestrito sincretismo entre as culturas que formaram nossa sociedade, de modo que antigas tensões, antes evidentes, começaram a esvair-se... No entanto, essa percepção deu lugar à cultura do ressentimento trazida de outras paragens. O resultado é esse aí: o racismo voltou com força. Pessoas são novamente separadas por cor e traços fenotípicos. Políticas públicas são baseadas na identidade de grupo. Criaram-se novas divisões sociais. Combate-se racismo com mais racismo.


2 - Num aspecto mais amplo e profundo, a incursão ideológica na cultura brasileira


Enquanto o senso-comum do brasileiro médio tem ojeriza às divisões raciais, classistas e de gênero (ao menos, o dever-ser é assim), há um novo senso-comum sendo plasmado pelas ideologias (ou religiões) do Século XXI. O princípio do qual tiram suas conclusões é o de que o indivíduo é um mero títere de forças muito maiores e incontroláveis. Logo, não importa o comportamento da pessoa em si, ela sempre será o resultado de um momento histórico, de uma superestrutura. Você é branco e de classe média? Parabéns! É o principal vetor de uma cultura racista e opressora. Atribui-se culpa aprioristicamente aos indivíduos baseada em preconceitos duvidosos, pois não são metodologicamente rigorosos na sua verificação. É mero senso-comum que visa suplantar o existente. Assim, a sociedade é dividida em grupos, alguns mais importantes que outros, merecedores de mais direitos que os outros, independentemente da história individual de cada integrante. 


O que essa nova cultura nos reserva? 


Para mim, os mesmos erros do passado. 

Comentários