Resenha: Tropas Estelares

Ficção científica com os pés no chão


Tropas Estelares ganhou o Prêmio Hugo, concedido às melhores ficções literárias, no ano de 1960. Foi pioneiro no gênero "ficção militar espacial": percorre a jornada do soldado, desde o árduo treinamento básico até sua promoção e clímax nas batalhas (interestelares). Contudo, não se trata de verdadeira ficção científica. O pano de fundo é a sociedade presente, velada pelo contexto do espaço profundo.

O autor, Robert A. Heinlein, um oficial reformado do exército americano, utiliza desse recurso para nos convidar a inúmeras reflexões atuais, no campo moral, social e até mesmo filosófico. Sua obra acaba se tornando densa, não pelo aspecto literário, mas teórico-argumentativo, o que pode decepcionar alguns leitores, como de fato o faz. A princípio, o trabalho foi criticado pelo seu viés "fascista" e, até hoje, é menosprezado em determinados círculos por conta de seu forte posicionamento em temas conservadores. A crítica é medíocre, só sendo relevante para os arautos ideológicos da geração dos anos 60, e não considera todo o mérito das reflexões de Heinlein.

Na sociedade imaginada pelo autor, o requisito para ser cidadão é pagar um "imposto censitário": o serviço militar. Somente àqueles que se dispuseram a dar a vida pela coletividade garantem-se direitos políticos. A disciplina e a ordem são determinantes, mas derivadas da responsabilidade individual, e não do controle externo. No entanto, várias contradições ficam evidentes, muitas delas presentes em nosso tempo: a dicotomia entre autoridade (do povo e dos governantes) e o ônus de suas escolhas; a questão da virtude cívica versus individualismo; e o papel da guerra e da ordem na manutenção de uma sociedade estável. O ponto de vista não é restrito: ao longo da obra, vários personagens contestam tal concepção de sociedade. O pai do protagonista, por exemplo, no alvor da narrativa, considerava os militares parasitas dos contribuintes. O médico do recrutamento entendia que o serviço militar era coisa para "formigas" e que a maioria não sabia utilizar do direito de voto. Os próprios militares, ao longo da obra, censuravam os indivíduos que se alistavam só para ter esse benefício político, sem ter qualquer aptidão para o serviço.

Enfim, deve o leitor tirar suas próprias conclusões dessa narrativa densa, que, a princípio, parece superficial e em nada se relaciona com o filme homônimo. Recomenda-se consultar o Google acerca das hierarquias militares. O autor utiliza sua vasta experiência na área como suporte à narrativa. 

Portanto, esta é uma obra de ficção com algo mais, além da mera fantasia. Mais próxima de nós do que podemos compreender a priori.



Livro: Tropas Estelares
Autor: Robert A. Heinlein
Editora: Aleph
Edição: 2015
Idioma: Português Brasileiro
Nota: 4/5

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