Palmitagem

Recentemente, descobri o significado do termo "palmitagem".

"Palmitagem" é um neologismo criado pelo movimento racista negro para designar, pejorativamente, aqueles indivíduos negros que se relacionam com brancos.

De forma mais específica, é o "negão que gosta de branquinhas", ou o "negro de alma branca".

O termo, da forma como é utilizado, remete a essas ideologias "regressistas" que assolam a sociedade.

Indubitável que essa discussão, ridícula, possui um quê de dramática. Escancara toda a hipocrisia do pessoal politicamente correto. E o pior: nem os integrantes do movimento escapam desse novo racismo.

Tome, como exemplo, a Djamila Ribeiro, árdua ativista negra e defensora dessas ideias. Há pouco tempo atrás, assumiu o relacionamento com um branco. Foi execrada nas redes sociais.

Não tive compadecimento. A pessoa sustenta abertamente, em seus livros, que o negro tem que rejeitar a branquitude e criar uma identidade afrocentrada; fala o tempo inteiro do privilégio dos homens brancos e como eles devem se submeter ao negro e, especialmente, às mulheres negras. Nesse cenário, como alguém pode pensar em se relacionar com um branco? É uma contradição ambulante. O próprio movimento apontou isso.

Realmente, é meio como "dormir com o inimigo". A pessoa faz exatamente o que ela condena: desumaniza o outro, diz que uma classe de indivíduos é responsável por todos os males da sociedade. Impõe culpa pelo mero fato do sujeito nascer em uma determinada posição social, ou por nascer branco, sem observar as ações e motivos dele. Em outras palavras, ela fomenta o racismo negro, a divisão das pessoas por cor. Não me surpreende o fato de haver negros, hoje, principalmente nos países ricos, que compram esse discurso e promovem a segregação racial. Dizem que relacionar com brancos é genocídio.

Percebe o grau de retrocesso em que chegamos? Graças a pessoas como Djamila. Se ela promove a "palmitagem" e sofre repreensão do movimento negro, está colhendo os frutos do que plantou.

Não faltaram defensores que tentaram justificar a posição da moça. Mas o malabarismo que fizeram denuncia somente a impossibilidade lógica de conciliar a ideologia com a práxis. 

O exemplo mais hilário pode ser visto neste artigo aqui. A "palmitagem" se junta ao "colorismo" para definir o grau de negritude de uma pessoa, o quanto ela está inserida no movimento. Ou seja, pessoas mais escuras sofrem um grau de preconceito maior, logo devem ser mais inseridas. Aqueles "menos negros" e mais "miscigenados" não merecem tanto acolhimento assim. 

Isso me cheira parecido com as políticas afirmativas, mas deixemos de lado o assunto para focar no que interessa: a completa incapacidade dos criadores da ideologia racista negra de entender o fenômeno Frankstein que gestaram ― e de reagir de acordo.

Veja essa passagem do artigo, atribuída a Alessandra Devulsky, suposta doutora em direito político e econômico:

Todas essas questões e discussões estão longe de ser consenso entre ativistas e membros do movimento negro. Devulsky, que está escrevendo um livro sobre colorismo ―será lançado pela editora Pólen e formará parte de uma coleção organizada pela filósofa Djamila Ribeiro―, diz ter receio de que o conceito seja “usado como instrumento para diminuir ou esvaziar a negritude das pessoas negras de pele clara”. Para ela, "não devemos usar os instrumentos do colonizador opressor como forma de emancipação”. [...]

Precisamente, é isso que ela e os integrantes do movimento negro fazem, mas continuemos...

Sobre como o debate se dá nas redes sociais, opina que “regular a agenda amorosa das pessoas com problemas socioeconômicos, quando a gente tem genocídio de jovens negros nas periferias de forma alarmante, é o que menos vai resolver nossos problemas”. E conclui: “Não podemos reproduzir uma ideia de controle das relações como um dia quis fazer um Estado dos EUA, ao proibir os casamentos inter-raciais, do mesmo jeito que não podemos reproduzir o contrário e promover o embranquecimento da sociedade com a ideia de ficarmos mais parecidos com a Europa dentro do que etnocentricamente foi estabelecido como padrão. Francamente, não é um debate fácil de se fazer, mas que precisa ser enfrentado de modo sério e criterioso”.

A pessoa não sabe o que fazer com a batata quente que ela mesmo assou! De um lado, não quer proibir brancos e negros de se relacionarem, mas, de outro, defende abertamente o racismo negro, a segregação das pessoas por identidades de cor, utilizando termos nojentos como "embranquecimento da sociedade".  

Francamente, com o perdão da palavra, o que dizer desta merda?! A não ser que estamos fomentando os mesmos problemas do passado?!

Como arremate, fiquemos com a notícia do momento: a já citada Djamila Ribeiro foi eleita, hoje, para a Academia Paulista de Letras. 

A Academia Paulista de Letras tem como membro fundador Luís Pereira Barreto, um notório defensor do darwinismo social e da eugenia. Precisamente cento e vinte e três anos depois, elege-se uma pessoa que defende abertamente o racismo negro e também a eugenia (quem se lembra do "miscigenação é genocídio"?). 

Moral da história: parece que não evoluímos absolutamente nada nesse espaço de tempo.

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