Washington cedeu, Brasília comemorou, e o Brasil pagou o preço
Por Vicky Richter
Por um breve e quase comovente momento, pareceu que os princípios ainda importavam na política externa. Cinco meses atrás, os Estados Unidos sancionaram o homem mais poderoso do Brasil que não foi eleito, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes — um juiz que aperfeiçoou a arte de governar por meio de liminares, silenciando críticos com a rapidez e a sutileza de uma batida policial noturna.
Então Washington ficou entediado.
As sanções acabaram. Foram suspensas. Silenciosamente arquivadas como um comunicado de imprensa constrangedor do trimestre passado. Mencionaram-se negociações comerciais. Invocou-se a "estabilidade". Cogitou-se algo vago sobre anistia. E assim, sem mais nem menos, a derrocada do Brasil rumo ao autoritarismo judicial foi polidamente aprovada.
Se você é um dissidente brasileiro acompanhando tudo isso, a mensagem não poderia ser mais clara: parabéns, você está por sua conta.
De Moraes — carinhosamente apelidado de "Voldemort" por aqueles que preferem não pronunciar seu nome em voz alta — construiu uma reputação por congelar contas bancárias, censurar plataformas e prender pessoas cujo principal crime foi digitar uma frase errada online. Não condenações. Não julgamentos. Tweets. Postagens. Opiniões. O tipo de coisa que as democracias geralmente apreciam bastante.
Quando os EUA finalmente o sancionaram, pareceu que uma linha havia sido traçada. Pela primeira vez, a maior democracia do mundo reconheceu que o Supremo Tribunal Federal do Brasil havia deixado de se comportar como um tribunal e começado a agir como um órgão de controle político.
Essa fila durou aproximadamente um ciclo eleitoral.
Agora que as sanções foram suspensas, o tribunal continua com sua composição abusiva, e o sinal para a classe dominante brasileira é inequívoco: sigam em frente. Silenciem quem quiserem. Chamem isso de “defesa da democracia”. O Ocidente vai resmungar, mas depois vai seguir em frente.
Isso não foi apenas um ajuste diplomático. Foi um sinal verde.
As instituições brasileiras estão se esvaziando em tempo real. O Congresso foi reduzido a um mero coadjuvante. O Supremo Tribunal Federal governa de fato — emitindo ordens, moldando políticas e criminalizando a dissidência com notável eficiência. A lei não mais restringe o poder; o poder define a lei.
Economicamente, os sinais de alerta já estão piscando. A inflação corrói os salários. O investimento hesita. A classe média está diminuindo. O governo responde com auxílios e slogans, confundindo gastos com crescimento e dívida com compaixão. É um roteiro que a América Latina conhece de cor — a Argentina também não entrou em colapso da noite para o dia.
Mas o verdadeiro dano não é fiscal. É institucional.
Quando os juízes agem como reis, os críticos se tornam criminosos por padrão. Ninguém sabe onde está o limite, porque ele muda diariamente. O medo se torna política. O silêncio se torna sobrevivência.
E agora, com Washington se afastando, não há mais pressão externa. Nenhuma influência. Nenhum custo para abusos. Apenas apertos de mão cordiais e sorrisos diplomáticos enquanto o movimento pró-democracia do Brasil fica à deriva.
O Brasil não precisa de sermões. Precisa de aliados que cumpram o que prometem.
Os Estados Unidos possuíam uma ferramenta que realmente importava — e a descartaram. A história não se lembrará disso como pragmatismo. Ela se lembrará como o momento em que a última porta se fechou silenciosamente.
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