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Mostrando postagens de agosto, 2022

O Leviatã bisbilhoteiro

Por Fernando Schüler, artigo para a Revista Veja. “Golpe foi soltar o presidiário!”, diz um dos membros do agora famoso grupo dos “golpistas do Whats­App”. Outro integrante mira no STF: “A Corte age à revelia da Constituição!”, diz e conclui: “Até quando vamos assistir o abuso prevalecer?”. A frase mais grave veio na forma de um desejo: “Prefiro um golpe à volta do PT”. Ele parece falar de variações do modelo chinês, que junta autoritarismo com mercado, e engata: “Ninguém vai deixar de fazer negócios com a gente”. Por fim, alguém arrisca uma digressão whats-filosófica, dizendo que “a espécie humana sempre foi violenta”, e que seria “uma utopia pensar que as coisas sempre se resolvem ‘na boa’”. É o Brasil em transe. Não por essas frases desconexas, algumas com o lamentável traço autoritário, aliás, ditas aos milhares no universo cacofônico das redes, dos bares, dos clubes, nos jogos de beach tennis Brasil afora. O transe é estarmos em meio a uma campanha presidencial discutindo essas c...

Fundo do poço

As declarações de uma fugitiva do regime ditatorial norte-coreano sobre sua experiência universitária nos EUA mostram bem o ovo da serpente que se tornou o ambiente acadêmico americano. Em entrevista reveladora à Fox News, Yeonmi Park disse que a sociedade americana perdeu o bom senso “a um ponto em que eu, como norte-coreana, não consigo compreender.” “Eu esperava gastar toda essa fortuna, todo esse tempo e energia para aprender a pensar. Mas eles estão forçando você a pensar da maneira que eles querem que você pense”, disse Park, descrevendo a situação como loucura. “Achei que a América fosse diferente, mas vi tantas semelhanças com o que vi na Coreia do Norte que comecei a me preocupar.” Durante a entrevista, Parks contou que foi repreendida por uma orientadora da universidade simplesmente por dizer que gostava de literatura clássica. “Achei que era uma coisa boa. Mas ela me disse ‘você sabe que estes escritores tem uma mentalidade colonial? Eles eram racistas e intolerantes e estã...

O Supremo quer ser o Grande Irmão

Editorial da Gazeta do Povo, 23 de agosto de 2022. Quando opiniões políticas emitidas em caráter privado se tornam motivo para mandados de busca e apreensão, e aqueles que as emitiram precisam comparecer diante da Polícia Federal, podemos muito bem dizer que já não estamos apenas diante de um “editor da sociedade”, nem de um “poder moderador” – expressões efetivamente usadas por membros do Supremo Tribunal Federal para descrever a própria corte –, mas do próprio Grande Irmão orwelliano, que pune até mesmo pensamentos considerados inconvenientes, no que o autor de 1984 chamou de “crimideia”. A operação policial contra oito empresários deflagrada na manhã desta terça-feira é um abuso sem precedentes na história recente brasileira – e, se usamos o termo “sem precedentes” no país dos inquéritos teratológicos que já renderam censura à imprensa e violação da imunidade parlamentar, é porque novos limites foram ultrapassados. Em 17 de agosto, o site Metrópoles publicou reportagem afirmando ter...

Carta pela democracia

Por que não assino o Manifesto da USP? Porque, apesar de sério e bem intencionado, faz elogios ao Supremo Tribunal Federal, que, com todo o respeito, a meu juízo, não os merece na atualidade. A Praça dos Três Poderes, em Brasília, tornou-se fábrica de crises e retrocessos institucionais semanalmente. Executivo, em maior escala, Legislativo e Judiciário, todos partícipes de tal atividade manufatureira prejudicial do Estado Democrático de Direito. Na verdade, estão às rusgas, demonstrando desconhecer o que seja Estado Democrático de Direito, em desarmonia institucional profunda e afronta às normas do art. 2º da Constituição da República. Falta leitura do livro de Montesquieu, De l'Esprit des Lois, um monumental Tratado de Ciência Política.  Ronaldo Brêtas

Pequeno guia politicamente incorreto de Michel Foucault

Por André Assi Barreto Algumas frases e depoimentos a respeito de Michel Foucault, proferidas por especialistas em sua obra, que refletem o caráter do filósofo francês, queridinho da esquerda pós-moderna: “Durante suas visitas aos Estados Unidos no final dos anos setenta, Foucault ficou fascinado pelo panorama homossexual de San Francisco com suas termas, bares gay, correntes, chicotes e rituais sadomasoquistas. O sadomasoquismo em especial representava o que Foucault chamou uma “experiência-limite”, uma situação-limite existencialista na qual as forças vitalistas do ego poderiam livrar-se da “falsificação do prazer através do sexo eminentemente genital”. Foucault veio a acreditar no que Artaud discutira nos anos quarenta, que “o corpo humano é uma bateria elétrica cujas descargas foram castradas e reprimidas” por tabus civilizados. Isso incluía o toma-lá-dá-cá da dor como um ritual sexual no qual, a experiência de extremo sofrimento nos indica as fronteiras do comportamento humano”. S...

Uma fábula de improdutividade

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 Por Marcos Mendes* João é inteligente e nasceu em uma família de classe alta. Estudou em boas escolas e entrou para uma universidade pública gratuita de engenharia. Formado, viu que os melhores salários iniciais de engenheiros estavam em R$ 5 mil. Fez concurso para um cargo de nível médio em um tribunal: salário de R$ 9 mil mais gratificações, aposentadoria integral, estabilidade, expediente de seis horas. O contribuinte custeou a formação de um engenheiro, e recebeu um arquivador de processos sobrerremunerado. Amanhã João estará em frente ao Congresso, com seus colegas, todos em greve por aumento salarial. Não terá o dia de trabalho descontado, nem se sente remotamente ameaçado de demissão. Pedro não tem muito talento intelectual. Mas sua família pôde pagar uma boa escola, o que lhe garantiu uma vaga em um curso não muito concorrido em universidade pública. Carente de habilidades acadêmicas, Pedro não se adaptou e mudou de curso duas vezes, deixando para trás centenas de horas-au...

Milton Friedman

A sabedoria do aniversariante do dia. Com vocês, Milton Friedman: "Uma sociedade que coloca a igualdade - no sentido de igualdade de resultados - à frente da liberdade não terá nem igualdade nem liberdade. O uso da força para alcançar a igualdade destruirá a liberdade, e a força, introduzida para bons propósitos, acabará nas mãos de pessoas que a usarão para promover seus próprios interesses." "A noção essencial de uma sociedade capitalista ... é a cooperação voluntária, a troca voluntária. A noção essencial de uma sociedade socialista é a força." "A maioria das falácias econômicas deriva da tendência de presumir que existe uma torta fixa, e que uma parte só pode ganhar à custa de outra." 'Quando o governo – em nome de boas intenções – tenta reorganizar a economia, legislar a moralidade ou proteger interesses especiais, o resultado é a ineficiência, a falta de motivação e a perda de liberdade. O governo deve ser um árbitro, não um jogador ativo." ...