Resumo: 12 Regras para a Vida

Um Antídoto para o Caos





O livro tem como problema geral a discussão acerca dos rumos da cultura ocidental: por um lado, como evitar o conflito eterno entre sistemas de valores e, por outro, o niilismo social irresponsável (p. XXXIII da Introdução)? Segundo Peterson, a resposta se daria através do desenvolvimento do indivíduo e de sua responsabilidade individual e coletiva: o aprimoramento do “Ser”. É a tarefa primordial de toda pessoa quando está perante o mundo e seu sofrimento. Em tempos nos quais os jovens aprendem que o valor da tolerância é o único aceitável e a moral é considerada opressora – considerações puramente ideológicas e simplistas – Peterson resgata a tradição humana obtida ao longo de séculos para mostrar o que é virtude, visando, assim, remediar a difusão do desespero e do conflito. 


Relembre as regras utilizando o próprio corpo


Lista de regras:


1. Costas eretas, ombros para trás.

2. Cuide de si mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade.

3. Seja amigo de pessoas que queiram o melhor para você.

4. Compare a si mesmo com quem você foi ontem, não com quem outra pessoa é hoje.

5. Não deixe que seus filhos façam algo que faça você deixar de gostar deles.

6. Deixe sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo.

7. Busque o que é significativo, não o que é conveniente.

8. Diga a verdade. Ou, pelo menos, não minta.

9. Presuma que a pessoa com quem está conversando possa saber algo que você não sabe.

10. Seja preciso no que diz.

11. Não incomode as crianças quando estão andando de skate.

12. Acaricie um gato ao encontrar um na rua.



1. Costas eretas, ombros para trás


O cérebro humano opera sob um mecanismo evolucionário muito antigo: a hierarquia de dominância. Disputas por território e prevalência são comuns na biologia e nas sociedades, as quais levam a hierarquias não imaginadas. Portanto, aqueles indivíduos que se encontram em seus degraus mais baixos assumem inconscientemente uma postura retraída, impulsiva e ansiosa, haja vista a falta de serotonina e a escassez de recursos disponibilizada a eles. Deste modo, uma simples mudança de hábitos, tal como ter rotina fixa e melhorar a linguagem corporal, pode dar fim a ciclos viciosos. O indivíduo é melhor visto, tem mais oportunidades e sobe na hierarquia. Mais que isso, a mudança tem um significado simbólico: aceitar a responsabilidade da vida. Com isso, as pessoas conseguem proteger a si mesmas da tirania, das crenças ingênuas e da corrupção social. 

Palavras-chave: hierarquia, dominância, depressão, defesa, hábitos, seleção natural, Princípio de Mateus, Lei de Pareto, serotonina. 



2. Cuide de si mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade


O Ser é dual: caminha entre o bem e o mal, a ordem e o caos. Tem potencial para os dois e não há como suprimir totalmente o segundo (vide a serpente no Jardim do Éden – “É muito melhor tornar aptos os Seres que estão sob seus cuidados do que protegê-los” – p. 48). A unidade com Deus (a natureza) não existe mais. O homem tomou autoconsciência de seu livre-arbítrio, de sua vulnerabilidade e da capacidade de fazer o Mal. Daí o sentimento de autodestruição e de menosprezo que os humanos sentem por si mesmos. Ter autocompaixão e caminhar para o Bem, seguindo os passos do Criador, deve ser o norte de todo o ser humano. O Bem prevalece: as sociedades estão repletas de pessoas cooperando em comum acordo. A compaixão (para consigo mesmo e para com os outros) em face do fardo aterrorizante da humanidade deve ser reconhecida. Merecemos respeito. 

Palavras-chave: ordem, caos, bem, mal, Deus, Éden, serpente, Adão, Eva, dualidade, consciência, vulnerabilidade, queda, tragédia, compaixão. 



3. Seja amigo de pessoas que queiram o melhor para você


Associar-se a pessoas que querem o melhor para você é essencial. O comportamento de grupo e a exigência que vem dele pode puxar todos para baixo. Muitos que fracassaram estão em situação ruim mais por culpa própria do que por circunstâncias alheias (esta é a presunção mais correta a se fazer na maioria dos casos). Portanto, importante entender as motivações das pessoas. Evitar aquilo que é mais fácil e conveniente, assumir a responsabilidade por suas ações e pelo futuro: isto é o que deve ser reforçado entre amigos. 

Palavras-chave: responsabilidade, pessoal, futuro, sacrifício, presente, fracasso, aproveitadores. 



4. Compare a si mesmo com quem você foi ontem, não com quem outra pessoa é hoje


O ser humano orienta suas ações por meio de sistemas de valor. É próprio de sua natureza. Portanto, padrões de melhor ou pior são constituintes da vida e definem a crítica interna que todos fazem. Para evitar que sejamos dominados por essa crítica, torna-se necessário estabelecer uma gradação de desejos, aspirações e tendências internas. Comparar-se com os outros é simplesmente errado, pois somos singulares, e nossas dificuldades devem ser resolvidas por nós mesmos. Podemos ser bons em algumas coisas, ruins em outras, e a mudança para o melhor só depende da melhoria interna e constante. Logo, a jornada é essencial, não o destino. Pequenas mudanças de foco e melhorias no que pode ser feito no presente levam a novas possibilidades, num ciclo virtuoso constante. A base de comparação fica maior. Os desejos mudam, as aspirações mudam. Tudo depende da análise do presente e do foco na melhoria do Ser, continuamente, com fé abnegada e compaixão por si mesmo. 

Palavras-chave: padrões, sistemas, valor, ação, crítica, interna, comparações, sucesso, fracasso, melhoria, presente, futuro, foco, desejo, imaginação, coletiva, fé, melhoria, Ser. 



5. Não deixe que seus filhos façam algo que faça você deixar de gostar deles


A percepção de que as crianças são puras e devem, portanto, procurar o próprio caminho é essencialmente equivocada, tal qual a crença ideológica de que a corrupção humana vem unicamente da cultura e esta deve ser transformada. A verdade é que criamos sistemas de valor que demoraram milênios para se desenvolver e hoje concretizaram-se numa forma de contrato social altamente sofisticada. Isto é o que trouxe paz e previsibilidade. Assim, não é prudente descartar as normas sociais de pronto e optar por alternativas duvidosas. É também de se notar que a adaptação a essas normas começa cedo, em casa, com os pais. Estes são os árbitros da sociedade, os promotores iniciais da ordem e da estabilidade social. Ao ser omissos ou abusivos, podem colocar no mundo pessoas inaptas ao convívio coletivo. Crianças mimadas, que não foram corrigidas a tempo, o serão pela sociedade, e não haverá afeto para com elas. Os pais realmente amorosos devem, enfim, reconhecer suas falhas, suas fraquezas, vícios, e obter o equilíbrio entre a disciplina e o abuso (princípio da força mínima necessária). Só assim cria-se condições desejáveis para o aprendizado e o aprimoramento social. 

Palavras-chave: evolução, gene, cultura, crianças, corrupção, ordem, correção, mimo, agressão, dominância, recompensa, punição, disciplina, emoções negativas, socialização, mínima força necessária. 



6. Deixe sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo


A vida é sofrimento e ele é indefectível. No entanto, as pessoas, ao invés de julgar a realidade e revoltar-se contra ela, na maioria dos casos, prefere o Bem, a conciliação, a adaptação. Por isso, criaram estruturas e sistemas de valor. Aceitar este fato e ter humildade é o primeiro passo para a vida plena e menos corrupta, mesquinha e ressentida. Sequer sabemos o que é certo e errado para nossas próprias vidas, o que dizer para o mundo e para os outros. Portanto, tenha humildade, entenda o que de mais próximo precisa ser melhorado, pare de distorcer a própria realidade. Muito dela é culpa do próprio indivíduo e de suas hipocrisias. 

Palavras-chave: revolta, sofrimento, vulnerabilidade, responsabilidade, humildade. 



7. Busque o que é significativo, não o que é conveniente


A tragédia da vida justifica a realização dos prazeres imediatos. Isto é o normal entre os seres humanos. Todavia, nossos ancestrais notaram que o adiamento da gratificação presente (o sacrifício) pode amenizar o sofrimento futuro. Essa percepção ocorreu com grande dificuldade, até porque é contrária aos impulsos biológicos. Ademais, em muitas histórias, o sacrifício tem que ser extremo e pode não gerar recompensas futuras. Mesmo assim, percebeu-se que há grande valor no sacrifício, eis que torna a vida mais próspera e estimula a cooperação (algo que motivou o nascimento de um contrato social civilizado). O Cristianismo foi a crença coletiva que mais incorporou essa diretiva. Ainda, introduziu a ideia do Mal: a fonte consciente, voluntária e vingativa do pior sofrimento, gerada justamente pelo sacrifício ressentido, pela revolta contra Deus (ou contra a realidade). Cristo resistiu ao mal humano. Negou-o por três vezes no deserto: negou a conveniência, a irresponsabilidade e o poder corrupto. Assim, para os cristãos, há de se seguir o exemplo de Cristo, no intuito de se evitar a tragédia do Ser, o seu padecimento pelo Mal e pelo sofrimento (vide p. 193). 

O problema do Cristianismo é que seus dogmas, por mais que tenham resolvido inúmeros problemas das sociedades antigas, trouxeram outros impensados antes. A insistência pela verdade criou a racionalidade científica e esta proporcionou a diminuição do sofrimento, o controle efetivo da realidade (a morte de Deus). A interpretação errada do sacrifício de Cristo também eximiu muitos de seu dever, de sua responsabilidade moral. O resultado: as tragédias do Século XX geradas pelo niilismo e pelas ideologias totalitárias. 

Por isso, a estrutura dogmática do Cristianismo ainda é válida. Isto porque trata de uma realidade arquetípica inescapável: a dualidade do Ser, a existência do Bem e do Mal, o comedimento em face das contingências terrenas. Diminuir o sofrimento consciente, propagar a melhoria do mundo, controlar os impulsos (e a adesão à conveniência), sacrificar-se. Este é o verdadeiro significado da vida, o qual foi perdido ao longo dos séculos. É dever de todos restabelecê-lo. 

Palavras-chave: conveniência, sacrifício, causalidade, presente, futuro, metáfora, histórias, contrato social, Bem, Mal, consciência, Cristo, Caim, Abel, ressentimento, Cristianismo, disciplina, ideias, racionalidade, fé, significado. 



8. Diga a verdade. Ou, pelo menos, não minta


A mentira é a negação da realidade. É a sua tentativa de manipulação, pois o indivíduo não a suporta e não quer assumir a responsabilidade por seus atos. O problema é que, a nível individual, a mentira suprime o que a pessoa poderia ser, pois evita que ela cresça mediante a confrontação com as dificuldades. A mentira também caminha junto da arrogância. Ao negar o que é o real, o indivíduo projeta uma torpe racionalidade para justificar ou mesmo ignorar seus erros, sem que dê chance ao aprendizado. Isto é o princípio das tiranias, do Inferno, eis que amplifica o calvário do Ser e impede a elaboração de respostas autênticas aos desafios da vida. É a rejeição de Deus e de qualquer redenção. Portanto, para se evitar a tirania e a covardia, é necessária a observação: mesmo que os objetivos não sejam claros, há de se ter fé na capacidade do Ser de compreender a realidade e adaptar-se. Assim, deve-se agir de acordo com a verdade, sem temer o eventual conflito. Quando ocorre, o Ser deve procurar o aprimoramento, talvez revendo seus valores e objetivos, num processo constante. O contrário disso, a mentira disseminada, culmina na corrupção da sociedade. 

Palavras-chave: mentira, manipulação, realidade, negação, arrogância, corrupção, Inferno, racionalidade, inautenticidade, verdade, aprendizado, sacrifício, conflito, meta-objetivo, valores, fé. 



9. Presuma que a pessoa com quem está conversando possa saber algo que você não sabe


O pensamento autêntico, aquele em que se busca a verdade, é dialógico. E isso vale tanto para o indivíduo em sua procura por coerência quanto para pessoas que objetivam o aprendizado. É o encontro de pensamentos diferentes e sua síntese, a qual gera transformação. Uma ideia para que isso aconteça é resumir os pontos de vista divergentes antes de se pronunciar. Com isso, abre-se o entendimento sobre o que se está discutindo, consolida-se a memória (a ferramenta que temos para consultar o passado na esperança de não errar no futuro) e evita-se falácias e simplificações distorcidas. Assim, escutar é um valor fundamental, tanto a si mesmo quanto aos outros: uma experiência de aprendizado e engrandecimento mútuos. 

Palavras-chave: conversa autêntica, passado, futuro, memória, escutar, pensar, diálogo, conflito, resumo, aprendizado, hierarquia, dominância, tipos, exploração mútua. 



10. Seja preciso no que diz


O mundo é um lugar muito complexo. Nossa percepção só capta um pequeno aspecto dessa realidade multidimensional e geralmente refere-se à utilidade imediata das coisas que estão ao nosso redor. A estreita visão humana se mostra especialmente limitada quando a complexidade do mundo se volta contra nós, quando o caos se instala, quando cai o véu de superficialidade da nossa percepção. Admitir tal complexidade e nossa ignorância a respeito é, portanto, fundamental. A busca pela verdade, o confronto com os problemas, sua especificação e correção: isto tudo deve ser feito de forma precisa e cautelosa, sempre com a noção de que o caos pode se instalar a qualquer momento. Precisamos estar preparados. A alternativa é o “doer contínuo e entorpecedor da desesperança permanente e do fracasso vago, e a sensação de que o tempo, o precioso tempo, está se esvaindo” (p. 287). 

Palavras-chave: percepção, complexidade, utilidade, ignorância, omissão, verdade, problemas, especificação, precisão, cautela. 



11. Não incomode as crianças quando estão andando de skate


Hoje imperam visões de mundo ideológicas que, ao contrário do que pretendem (ou fingem pretender), são amplamente anti-humanas. Simplificam assustadoramente a complexidade da existência e julgam-na a partir de uma verdade universal, de um truísmo, como se ele pudesse ser aplicado de forma determinística. A pós-moderna ou neomarxista disseminou-se e está se tornando onipresente na cultura ocidental. Implica que toda a estrutura humana é resultado do conflito pelo poder. Os poderosos oprimem os desvalidos. Não há, nesta visão, espaço para outras motivações. Qualquer relação social, incluindo a própria linguagem, é reflexo da ganância pelo poder. “Tudo é interpretação”, segundo Derrida. A igualdade seria o valor máximo para essa doutrina, eliminando-se quaisquer hierarquias. 

Só que isso é uma utopia, uma forma de pensar anti-humana, que exclui da existência outras variáveis que possam influenciar a história a exceção do poder. Ignora que a cultura humana e a sociedade atual são resultado de um longo processo ocorrido ao longo de milênios e que não há qualquer determinação subjacente. Também não se atenta à impossibilidade de se viver em uma sociedade sem hierarquias, haja vista que a existência de valor na ação implica a existência delas. 

O exemplo dessas ideias sobre a igualdade de gênero é elucidativo. A igualdade é impossível. Homens e mulheres são interdependentes, como mostram a história e a biologia. Têm características complementares. Traços efeminados de personalidade, que estão sendo incentivados como padrão moral, limitam o mundo. A natural assertividade masculina é necessária e está sendo suprimida. Tudo isso para “diminuir o sofrimento humano” ou se “equilibrar a balança do poder”. 

O problema é que proteção demais destrói as pessoas quando estão em desenvolvimento. Cria indivíduos frágeis, incapazes de lidar com o conflito. Ademais, pavimenta o caminho da dependência, da tirania, da exploração, da vingança e do ressentimento. A sociedade se corrompe. Portanto, que os jovens utilizem suas capacidades inatas. Não se deve privá-los do risco nem do desenvolvimento natural. Homens e mulheres precisam disso para uma comunidade saudável. 

Palavras-chave: risco, ressentimento, igualdade, poder, ideologia, hierarquia, cultura, opressão, gênero, homens, agressividade, consciência. 



12. Acaricie um gato ao encontrar um na rua


O Ser é vulnerável. O Ser cambaleia para o Caos e para o Mal continuamente. Perceber isso, aceitar o sofrimento, é o norte necessário à vida. Caminhar para o Bem, lenta e continuamente pode ser a resposta. Fazer uma boa ação a cada dia. Conter o sofrimento e a racionalidade (ter fé e percepção). Entender as limitações do Ser. Agir com compaixão. Isso tudo atenua a tragédia da existência consciente. 

Palavras-chave: fragilidade, vulnerabilidade, existência, limitações, aceitação, sofrimento, percepção. 





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