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Mostrando postagens de setembro, 2024

A esquerda é dona da censura

Por André Marsiglia Tenho insistido que a perseguição às redes sociais promovida pelo establishment de esquerda do Estado nos últimos anos sedimentou no país uma visão moralista a respeito de conceitos como: liberdade de expressão, democracia, verdade e ciência. Moralizados, tais conceitos se tornaram verdadeiros dogmas inúteis para o debate, e muito úteis para a política que os manipula em favor de projetos autoritários de poder. Não à toa que, mesmo sem qualquer previsão legal, conceitos opostos ao de liberdade de expressão (como desinformação), ao de democracia (como conduta antidemocrática), ao de verdade (como fake news) e ao de ciência (como negacionismo) têm sido utilizados para condenar e banir discursos de opositores e até mesmo para prender críticos das autoridades do país. Nada mais conveniente à manipulação do que tornar crime o oposto a um conceito que sequer é jurídico, dando-lhe ares moralizantes, como se, dessa forma, se estivesse promovendo uma higienização do debate p...

Servidão voluntária

Por Fernando Schüler Eu andava pelo Chile quando o nosso X, o antigo Twitter, desapareceu. “Qué pasa en Brasil?”, me perguntam em um almoço com colegas acadêmicos. “Longa história”, respondi, “mas basicamente continuam salvando nossa democracia”. Algumas risadas, um certo espanto, e a conversa migrou para outros assuntos. De minha parte, sempre achei o Twitter (muito antes do Elon Musk) uma rede tóxica, mas ótima para informação. Nos últimos anos fui selecionando um punhado de intelectuais que gosto de seguir. Niall Ferguson, Jonathan Haidt, por aí. “Agora complicou”, fiquei matutando. É um pouco como as eleições americanas. Boa parte do debate acontece no X. O jeito é pedir ajuda. Alguém de algum país menos neurótico, na vizinhança, mandar uns prints do que estão falando. O almoço terminou e fui dar uma volta pelas ruas de Santiago, com aquela pergunta no ar: “Qué pasa en Brasil?”. A indagação era um pouco mais complicada: como fomos cair na conversa de que “os instrumentos da democra...

Três argumentos burros para defender a censura

Por André Marsiglia É bastante frustrante ver advogados, juízes, jornalistas, geralmente de esquerda, que chegaram a sofrer na pele a censura da ditadura militar, ignorarem, ou até comemorarem, hoje, a censura imposta a 22 milhões de usuários com a suspensão do X (ex-Twitter). Isso mostra que, para boa parte da intelectualidade brasileira, a defesa de princípios constitucionais não interessa. Está em jogo apenas a defesa de seus próprios interesses. Pensando no leitor comum, muitas vezes guiado por falsos argumentos destas pessoas, comento 3 deles para os esclarecer: 1- “O X é uma bolha, a liberdade de expressão não precisa dele”. Se há censura só quando não há mais lugares disponíveis para se expressar, devo acreditar que não há problema em serem suspensas as atividades do Estadão, da Folha de S. Paulo ou deste Poder360. Um absurdo. Além disso, também eram bolhas o Pasquim, o Congresso da UNE em Ibiúna (SP), a reunião da PUC em São Paulo, invadida pelo coronel Erasmo Dias, durante o ...

A liberdade sob ataque dos liberais

O texto a seguir é um editorial publicado ontem pela @TheEconomist, traduzido hoje pela @folha, sobre a escalada de censura no Brasil. Não mudo uma linha e convido a todos à leitura: "No Brasil, juízes bloquearam o acesso ao X, uma das redes sociais mais populares do país. Na França, promotores proibiram o chefe do Telegram de sair da nação enquanto investigam a plataforma de mensagens. No Reino Unido, juízes estão condenando usuários à prisão por mensagens publicadas durante recentes distúrbios. Nos Estados Unidos, há planos para banir o TikTok, um aplicativo popular de propriedade chinesa. À medida que governos reprimem o discurso online, argumentos sobre a liberdade de expressão começam a transbordar. Em alguns casos, a repressão é justificada. O caso da França contra o Telegram, um aplicativo fundado na Rússia que tem 50% mais usuários em todo o mundo do que o X, concentra-se no seu policiamento de conteúdo ilegal. O aplicativo, que tem apenas cerca de 50 funcionários, há mui...

Cumprindo a lei no Brasil

Por J. R. Guzzo O Brasil, como qualquer outro país, já viveu momentos muito ruins. Está vivendo hoje, com certeza, um dos piores de todos, com a ânsia psicótica da esquerda “moderada-civilizada”, da maioria dos juristas e também da maioria dos jornalistas, em rezar um Te Deum permanente para Alexandre de Moraes e correr atrás dele para atirar nos feridos. É um marco, realmente, na história universal da puxação de saco – uma das atitudes mais desprezíveis que alguém com vergonha na cara pode tomar. Mais: é um puxa-saquismo 2.0, em que não apenas bajulam o poderoso, mas utilizam o “respeito à lei e às instituições” para justificar os atos de totalitarismo mais flagrantes que o Brasil já teve desde o regime militar de 1964. Naturalmente, há um método nisso tudo, como na loucura de Hamlet. A esquerda se ajoelha para Moraes porque gosta e precisa de ditadura. A politicalha que rouba o Erário conta com ele e com o resto da STF para continuar roubando sem medo de criar problemas com a Justiç...

Bangkok Street: Onde Tudo Acontece

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  Youssef As luzes da cidade invadiam o pequeno quarto de tal maneira que ele não precisava de iluminação própria. Como alguém conseguiria dormir naquele local? Era difícil dizer. Mas Youssef não estava lá para descansar. Deitado na cama, fumava um cigarro. A cada baforada, a fumaça subia e se misturava às cores vindas de fora formando verdadeiros caleidoscópios. Ele brincou com aquilo por alguns minutos até ouvir um “bip” de seu celular. O tão aguardado “bip”. – Khan. – Era o código. Levantou-se e pegou sua mochila. Antes de sair, conferiu se a pistola estava carregada. Sim, tudo certo. Pôs o artefato em um coldre dentro de sua jaqueta e deu o fora dali. Em minutos, estava na rua suja e agitada, caminhando apressadamente por entre os numerosos transeuntes. Era o princípio da noite. Naquele local, as pessoas estavam apenas iniciando o seu turno, seja nos bares, seja nos “hotéis”. Ambulantes também davam as caras e vendiam quinquilharias – ou algo a mais. Youssef não se interessava ...